Política externa: setores econômicos catarinenses (2025-)
O agronegócio é responsável por 64% das exportações de Santa Catarina. Por outro lado, a agricultura familiar é responsável por 70% do abastecimento de alimentos para consumo interno e ocupa a 8ª posição entre os maiores produtores de alimentos do mundo. As propostas da agroecologia permitem repensar globalmente o sistema agrário e a diplomacia dos povos originários organizados oferece outro olhar sobre as relações com a terra e o planeta. A indústria é responsável por quase 30% do PIB de Santa Catarina e gera 33% dos empregos totais, sendo o 4º estado brasileiro em número de estabelecimentos industriais.
Como atores ruralistas, indígenas, empresas familiares, demais operadores agrários e indústria catarinense interpretam a política externa brasileira? O que esperam da política externa? Quais são seus anseios e frustrações e como se organizam politicamente para demanda-los? Como entendem o cenário internacional na atualidade? Que tipo de ação externa lhes beneficiou no passado? Quais são as prioridades geográficas que elencam para as relações internacionais do Brasil? Quais são as ações externas que demandam do governo para seu setor?
O projeto “Setores econômicos catarinenses na política externa” visa entender essas demandas e compartilhar os resultados com a sociedade, comparando os anseios dos setores agrícolas e industriais locais aos eventos da conjuntura internacional.
Esse projeto é desenvolvido nas disciplinas de Política Externa Brasileira 1 e 2, sob coordenação dos professores Clarissa Dri e Daniel Castelan. Estudantes organizam-se em grupos e entrevistam atores econômicos, lideranças indígenas, dirigentes de empresas agrícolas e industriais da região sul, prioritariamente de Santa Catarina. As transcrições e relatos das entrevistas seguem abaixo.
- 2025.2: Agenda externa da agricultura e uso da terra em Santa Catarina
No semestre 2025.2, foram xx atores entrevistados.
Confira abaixo as entrevistas transcritas na íntegra, além dos principais eventos internacionais que impactaram a política externa brasileira nesse período.
Para contextualizar o cenário internacional no momento da realização das entrevistas, as/os estudantes compilaram também as principais notícias nacionais e internacionais de interesse para a política externa brasileira.
Leia aqui os principais eventos internacionais 2025.2
Transcrição entrevistas
- 2025.1: Agenda externa do agronegócio
No semestre 2025.1, foram 5 empresas entrevistadas, todas do setor agroexportador da região sul. Confira abaixo as entrevistas transcritas na íntegra, além dos principais eventos internacionais que impactaram a política externa brasileira nesse período. As entrevistas foram todas realizadas de modo online em abril e maio/2025 por estudantes da disciplina Política Externa Brasileira 2. A identidade de todos os representantes das empresas, pessoas físicas entrevistadas, foi preservada. Ademais, algumas empresas solicitaram que a identidade da pessoa jurídica também fosse preservada, de modo que, nesses casos, divulgamos apenas o conteúdo da entrevista e suas análises.
Para contextualizar o cenário internacional no momento da realização das entrevistas, as/os estudantes compilaram também as principais notícias nacionais e internacionais de interesse para a política externa brasileira.
Leia aqui os principais eventos internacionais 2025.1
Semana 10 março 2025
10 de março: Divulgada nesta segunda (10), a carta da presidência brasileira da COP-30, assinada pelo embaixador André Corrêa do Lago, que destaca o protagonismo do Sul Global e a urgência de metas climáticas mais ambiciosas. O documento reforça o multilateralismo como chave para enfrentar a crise e convoca um “mutirão global” pela ação climática, com cooperação em fóruns como G20 e BRICS. O embaixador alerta que a mudança é “inevitável, seja por escolha ou catástrofe”, reforçando a urgência do momento. Com uma crítica implícita à política externa de Donald Trump, a carta aponta a COP-30 como um marco para avanços em multilateralismo, transição justa e financiamento. No entanto, a ausência de um posicionamento sobre combustíveis fósseis gera questionamentos, especialmente diante dos planos do governo brasileiro para avançar em planos de exploração de petróleo na Amazônia.
11 de março: Ucrânia aceita proposta dos EUA para cessar-fogo com a Rússia. A Ucrânia concordou em aceitar uma proposta dos Estados Unidos para um cessar-fogo imediato de 30 dias do conflito e em tomar medidas para restaurar uma paz duradoura após a invasão da Rússia, de acordo com uma declaração conjunta dos EUA e da Ucrânia nesta terça-feira.
13 de março: China encerra congresso anual com recados sobre guerra tarifária de Trump e meta ambiciosa de crescimento: Ministro do Comércio afirmou que americanos estão ‘no caminho errado’ e que a China lutará ‘até o fim’. País quer crescer cerca de 5% neste ano.
14 de março: O agradecimento de Putin a Lula e Brics ao dizer que está aberto a cessar-fogo: O presidente russo, Vladimir Putin, agradeceu ao presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e a outros líderes dos Brics ao comentar a proposta de cessar-fogo no conflito com a Ucrânia nesta quinta-feira (13/03).
Semana 17 março 2025
20 de março: Clima Adverso Afeta Safra 2025/26 de Café do Brasil: A seca e as temperaturas elevadas em fevereiro e início de março afetaram lavouras nas principais áreas produtoras de café do Brasil, com impacto na safra 2025 e também em 2026
20 de março: União Europeia adia retaliação contra tarifas dos EUA para meados de abril: A União Europeia adiou suas primeiras medidas retaliatórias contra os Estados Unidos pelas tarifas sobre metais do presidente Donald Trump até meados de abril, permitindo que o bloco reflita sobre quais produtos norte-americanos seriam atingidos e oferecendo semanas extras para negociações.
22 de março: Lula embarca para o Japão neste sábado; em seguida, presidente visita o Vietnã: Segundo o Itamaraty, em 2024, “o Japão foi o terceiro maior parceiro comercial do Brasil na Ásia e terceiro maior destino de exportações brasileiras à região, com intercâmbio comercial de US$ 11 bilhões de dólares e superávit de US$ 148 milhões”
Semana 24 março 2025
25 de março: Encontro dos Ministros de Relações Exteriores da China, Japão e Coréia do Sul: Amid a tumultuous international situation, the foreign ministers of China, Japan and South Korea met in Tokyo for the 11th Trilateral Foreign Ministers’ Meeting on March 22. Notably, it was the first meeting of the three nations’ foreign ministers since 2023. The goal of the foreign ministers’ meeting was to provide fresh political momentum and direction for trilateral collaboration, as well as to organize and coordinate the whole trilateral cooperation process this year – including a planned leaders’ summit.
26 de março: A relação Brasil-Japão ganha nova dimensão: Presidente brasileiro e primeiro-ministro japonês estreitam relações comerciais e econômicas e delegações assinam dez acordos e 80 instrumentos de cooperação. O Brasil conta com a maior população nipodescendente fora do Japão, estimada em mais de 2 milhões de pessoas, e o Japão abriga a quinta maior comunidade brasileira no exterior, com 210 mil nacionais. Em 2025, comemoram-se os 130 anos das relações diplomáticas Brasil–Japão. Ano passado, Brasil e Japão registraram intercâmbio comercial de US$ 11 bilhões, com superávit brasileiro de US$ 146,8 milhões. O Brasil exporta principalmente carne de aves (frescas ou congeladas), alumínio, carne suína, celulose, café e minério de ferro. Já as importações são compostas por partes e acessórios de veículos, instrumentos e aparelhos de medição, motores de pistão e demais produtos da indústria de transformação.
27 de março: Brasil e Vietnã oficializam Plano de Ação para o período de 2025 a 2030: A ampliação do comércio entre as duas nações prevê a abertura do país asiático à carne bovina brasileira. “A abertura do mercado vietnamita para a carne bovina brasileira atrairá investimentos de frigoríficos do Brasil para fazer deste país uma plataforma de exportação para o Sudeste Asiático”. A exemplo do que articulou em sua viagem ao Japão, o presidente brasileiro ressaltou o interesse em aproximar o Vietnã da zona comercial do Mercosul, além de promover intercâmbios. “Vietnã e Brasil são os dois maiores produtores mundiais de café e ambos tivemos safras recentes afetadas pela mudança do clima. Estamos determinados a ampliar nosso intercâmbio técnico para fortalecer a resiliência da cultura do café”.
28 de março: Trump diz que EUA ‘precisam’ da Groenlândia e volta a falar em ter controle da ilha: “A Groenlândia é sobre a paz mundial. Precisamos da Groenlândia. É muito importante para a segurança internacional. Se você olhar para as hidrovias, verá que há navios chineses e russos por todo lugar… Não estamos contando com a Dinamarca ou qualquer outro país para cuidar dessa situação”, afirmou a repórteres na Casa Branca.
28 de março: Putin diz que Coreia do Norte e BRICS devem se juntar às negociações de cessar-fogo na Ucrânia: O presidente russo, Vladimir Putin, disse que a Ucrânia poderia ser colocada sob uma “administração temporária” como parte de um processo de paz que poderia incluir ajuda da Coreia do Norte e de outros aliados de Moscou. Falando a um grupo de militares no porto de Murmansk, no norte da Rússia, Putin apresentou várias disposições para um processo de paz para encerrar a guerra de três anos iniciada por Moscou em fevereiro de 2022, de acordo com a agência de notícias estatal russa, TASS.
29 de março: Brasil vai negociar tarifas com EUA antes de tomar medidas, diz Lula: O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que o Brasil vai tentar negociar, com os Estados Unidos, sobre o “tarifaço” realizado pelo presidente Donald Trump, antes de tomar qualquer outra medida, como reciprocidade ou até mesmo recorrer a Organização Mundial do Comércio (OMC). – 29/03
Semana 31 março 2025
02 de abril: O “Dia da Libertação” de Donald Trump foi marcado pela aplicação de tarifas em diversos países ao redor do mundo. O Brasil ficou na faixa dos países com as menores tarifas, com 10% de taxação.
04 de abril: China anuncia tarifas recíprocas de 34% contra as tarifas dos EUA. OMC reduz em 4 pontos percentuais a projeção do volume de comércio mundial, passando de 3% para uma retração de 1%.
Semana 7 abril 2025
9 de abril: A China divulgou um documento sobre suas relações comerciais e econômicas com os Estados Unidos, reiterando que continuará com as retaliações, após o presidente americano, Donald Trump, aumentar as tarifas sobre produtos chineses.
10 de abril: Foi esclarecido pela Casa Branca na quinta-feira (10/4) que as tarifas impostas aos produtos chineses que entram nos Estados Unidos são de 145%, e não de 125%, como havia sido divulgado anteriormente.
11 de abril: As tarifas de 125% da China contra importados dos Estados Unidos passam a valer a partir do sábado (12), em uma nova escalada das tensões entre as duas maiores economias do globo.
Semana 14 abril 2025
14 de abril: Nesta segunda-feira (14), o presidente argentino, Javier Milei, sugeriu que o Brasil deveria agradecer à Argentina pela tarifa de apenas 10% imposta pelos Estados Unidos a produtos do Mercosul. Segundo ele, a taxação anunciada por Donald Trump poderia ter chegado a 35%, com penalidades extras, se não fosse amenizada pela boa relação do argentino com o presidente estadunidense.
15 de abril: Dólar sobe a R$ 5,89 com tarifas no radar; bolsa cai: Investidores continuam em busca de clareza sobre as políticas tarifárias do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
19 de abril: Milhares de manifestantes protestam contra políticas de Trump nos EUA. Milhares de pessoas tomaram as ruas em diversas cidades dos Estados Unidos neste sábado (19/04) para protestar contra ações recentes do presidente Donald Trump.
19 de abril: Putin anuncia trégua em ataques à Ucrânia na Páscoa: A imprensa russa noticiou neste sábado (19/4) que o presidente Vladimir Putin declarou uma trégua de Páscoa no conflito com a Ucrânia. O Kremlin disse esperar que a Ucrânia siga seu exemplo.
Semana 21 abril 2025
23 de abril: Com tarifaço, empresas de café dos EUA temem aumento de preços: Associação Nacional do Café dos Estados Unidos solicitou ao governo norte-americano a isenção das tarifas de 10% impostas sobre o café importado, no contexto do movimento de “tarifaço” de Donald Trump. O pedido partiu do temor de que a tarifa imposta, aliada à restrição de oferta de café mundialmente resultariam num aumento acelerado do preço do produto no mercado interno dos Estados Unidos.
Semana 28 abril 2025
28 de abril: Em Nova York, ministra dos Povos Indígenas anuncia parceria que viabilizará financiamento internacional a povos indígenas e comunidades locais: Na 24ª sessão do Fórum Permanente das Nações Unidas sobre Questões Indígenas (UNPFII) foi anunciada uma parceria formal entre o Tropical Forest Forever Facility (TFFF) e a Aliança Global de Comunidades Territoriais (GATC, na sigla em inglês) pela ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, e pelo Secretário Executivo da GATC, Juan Carlos Jintiach. O objetivo é viabilizar o desenvolvimento conjunto dos mecanismos de governança e de acesso ao financiamento ambiental por povos indígenas e comunidades locais, o que representa um avanço concreto protagonizado pelo Brasil, em direção ao financiamento direto, inclusivo e equitativo aos serviços ambientais prestados por esses grupos.
29 de abril: Mark Carney enters the arena. Eleições no Canadá, vitória liberal. In the end, Donald Trump decided it. On 28 April Canadians elected Mark Carney to be their next prime minister, a dramatic turnaround for his Liberal party, which only eight weeks ago seemed to be headed for a wipeout. At the time of writing it was still unclear whether the Liberals had won enough seats to form a majority government but, nevertheless, Carney will stay on as prime minister. The final factor in deciding the election had little to do with Canadian politics at all. As I wrote back in March, many Canadians view Trump’s tariffs not just as an economic crisis, but an existential one. Under the weight of Trump’s economic and rhetorical attacks, Canadians opted for Carney – an economist and a technocrat with a lofty CV – rather than the populist who had previously embraced a Maga-of-the-North style of politics.
30 de abril: Governo do Brasil ressalta consenso do BRICS contra protecionismo comercial. A reunião dos ministros das Relações Exteriores do BRICS terminou nesta terça-feira (29/04) sem uma declaração conjunta do grupo. Mas, segundo o chanceler brasileiro Mauro Vieira, houve consenso dos 11 países membros e dos demais convidados em se opor à guerra tarifária global. “Eu gostaria de destacar o firme rechaço de todos à ressurgência do protecionismo comercial e ao uso de medidas não tarifárias sob pretextos ambientais. A reforma da OMC [Organização Mundial do Comércio] e a plena retomada de seu órgão de solução de controvérsias são essenciais na visão de todos”, disse Vieira. O documento final do encontro no Rio de Janeiro foi assinado apenas pela Presidência brasileira do BRICS, como forma de dar mais peso à Cúpula de Líderes, que vai ocorrer em julho, disse o ministro Mauro Vieira. Ele reforçou que houve “compromissos e acordos” com os demais ministros.
29 de abril: Trump diz que segundo mandato é ‘mais poderoso’ ao completar 100 dias de governo. Ao completar 100 dias de governo, a popularidade de Donald Trump está em queda, seu índice de aprovação, em sondagem divulgada pela CNN no último domingo (27/04), é de apenas 41%, o pior índice desde o presidente Eisenhower, em 1953. Apesar disso, o líder da extrema-direita, hoje no comando da maior potência militar e econômica do mundo, continua forjando a realidade ao seu favor. É o que evidencia sua entrevista aos jornalistas Ashley Parker, Michael Scherer e Jeffrey Goldberg do The Atlantic, publicada nesta terça-feira (29/04).
02 de maio: US urges restraint as Kashmir massacre tensions put India and Pakistan on edge. The United States is stepping up pressure on India and Pakistan to avoid conflict in Kashmir after a tourist massacre in an Indian-administered area of the divided territory last week. US Vice President JD Vance said Thursday that Washington hopes Pakistan will help hunt down the militants behind the attack, who are based in Pakistan-controlled territory. And Vance urged India, which has accused Pakistan of being involved in the attack, to act with restraint so tensions do not explode into a war between the nuclear-armed neighbors. “Our hope here is that India responds to this terrorist attack in a way that doesn’t lead to a broader regional conflict,” Vance said in an interview on Fox News.
02 de maio: Vance says war in Ukraine ‘not going to end any time soon, hours after US signs minerals deal with Kyiv. US Vice President JD Vance said the war in Ukraine is “not going to end any time soon,” just hours after Washington and Kyiv signed a key minerals agreement that has peace in Ukraine among its goals. Speaking to Fox News on Thursday, Vance poured some cold water on earlier statements from the White House, while also claiming that US President Donald Trump managed to secure “a really big breakthrough” in the peace process. “It’s going to be up to them (Ukraine and Russia) to come to an agreement and stop this brutal, brutal conflict. It’s not going anywhere. It’s not going to end anytime soon,” Vance told Fox News. “Of course they (the Ukrainians) are angry that they were invaded, but are we going to continue to lose thousands and thousands of soldiers over a few miles of territory this or that way? I hope both of them come to their senses.” Trump suggested just last week that Russia and Ukraine were “very close to a deal” after his foreign envoy, Steve Witkoff, spent three hours meeting with Putin at the Kremlin.
02 de maio: Evacuações no Chile e na Argentina após alerta de tsunami. Milhares de pessoas foram evacuadas para áreas mais altas no Chile e na Argentina, depois que as autoridades chilenas emitiram um alerta de tsunami após um terremoto na costa sul do país. O alerta de tsunami foi emitido para a remota região de Magalhães, no Chile, e partes do Território Antártico Chileno, com medidas de precaução sendo tomadas na região da Terra do Fogo, na Argentina.
01 de maio: Trump destitui Waltz do cargo de conselheiro de segurança nacional e o nomeia para cargo na ONU. O presidente dos EUA, Donald Trump, removeu Mike Waltz de seu cargo de conselheiro de segurança nacional e o nomeará embaixador nas Nações Unidas. Waltz enfrentou críticas por adicionar erroneamente um jornalista a um grupo de bate-papo onde planos militares delicados eram discutidos — um constrangimento político que provavelmente aparecerá durante as audiências de confirmação para o cargo na ONU.
02 de maio: Orçamento de Trump propõe US$ 1 trilhão para defesa, corta educação, ajuda externa, meio ambiente, saúde e assistência pública. A Casa Branca revelou na sexta-feira um projeto orçamentário que injetará mais dinheiro em defesa e segurança interna, ao mesmo tempo em que corta programas que o governo Trump já almeja, incluindo educação, ajuda externa, meio ambiente, saúde e programas de assistência pública. A proposta segue as prioridades de Trump de reforçar a defesa do país e as capacidades de fiscalização da imigração. Ela aumentaria os gastos com defesa em 13%, para US$ 1 trilhão. Também proporcionaria um investimento “histórico” de US$ 175 bilhões para “proteger totalmente a fronteira”, de acordo com uma carta do Escritório de Gestão e Orçamento enviada à senadora Susan Collins.
01 de maio: China admite negociar tarifas, mas diz que EUA precisam ‘corrigir práticas equivocadas’. O Ministério do Comércio da China declarou, em comunicado divulgado nesta sexta-feira (2), que está avaliando uma proposta dos Estados Unidos para iniciar conversas sobre a guerra comercial. Segundo a pasta, os EUA precisam “demonstrar sinceridade” se quiserem negociar. Para isso, os norte-americanos devem estar dispostos a “corrigir suas práticas equivocadas e cancelar as tarifas unilaterais”.
02 de maio: Grupos ambientalistas criticam aprovação de listagem da JBS nos EUA; Wall Street a elogia. O regulador financeiro dos Estados Unidos aprovou no mês passado uma proposta do maior frigorífico do mundo, JBS (JBSS3.SA). listar -se na Bolsa de Valores de Nova York está atraindo fortes críticas de grupos climáticos e de direitos dos animais, mas elogios de Wall Street. Em várias declarações após 22 de abril, quando a brasileira JBS disse que a Securities and Exchange Commission (SEC) dos Estados Unidos deu sinal verde para seu plano de listagem dupla para ampliar seu grupo de investidores e elevar sua avaliação para mais perto de seus pares, ativistas ambientais e lobbies de direitos dos animais lançaram uma campanha condenando-a. Eles citaram extensas investigações criminais sobre a JBS ou seus controladores no Brasil e nos EUA, bem como preocupações com o desmatamento da Amazônia e o papel descomunal da empresa como grande emissora global de gases de efeito estufa no curso de suas operações.
Semana 05 maio 2025
07 de maio: As tarifas de 25% impostas por Donald Trump sobre o aço estrangeiro forçaram siderúrgicas brasileiras a venderem ao mercado dos EUA com preços mais baixos. Isso pode reduzir significativamente a receita das empresas, já que os EUA são o principal destino do aço brasileiro.
08 de maio: Em um momento de grande conturbação internacional envolvendo os Estados Unidos, a Igreja Católica elegeu pela primeira vez um estadunidense para o posto de Líder da Igreja Católica, o que, além do peso religioso, representa um simbolismo relevante para o país.
11 de maio: O Presidente Lula viajou à Rússia e à China, principal parceiro comercial do Brasil, com objetivo de estreitar laços e atrair investimentos. Contudo, o governo afirma que a aproximação com o país asiático não significa um afastamento de Washington, sinalizando apenas uma diversificação de parceiros, evitando choques unilaterais e reduzindo dependências.
Semana 12 maio 2025
12 de maio: O Presidente Luiz Inácio Lula da Silva realiza visita de Estado à República Popular da China nos dias 12 e 13 de maio de 2025, a convite do Presidente Xi Jinping. O Presidente Lula, além da agenda bilateral, participa, no dia 13, do Quarto Fórum da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC) – China, em Pequim.
17 de maio: Menos de 24 horas após reuniões diretas entre Ucrânia e Rússia em busca de um cessar-fogo, um drone russo atingiu um veículo, matou ao menos nove pessoas e feriu outras quatro na região de Sumi, no nordeste da Ucrânia, afirmaram autoridades na madrugada deste sábado (17).
Semana 19 maio 2025
19 de maio: Chile, México e Uruguai suspendem temporariamente a compra de frango do Brasil, após a confirmação do primeiro caso de influenza aviária de alta patogenicidade (IAAP). Argentina, China e União Europeia também já haviam suspendido as compras de aves brasileiras.
20 de maio: Em maio de 2025, o Brasil foi convidado a presidir um grupo de trabalho que discutirá a criação do Estado palestino perante a Organização das Nações Unidas (ONU). Conforme o Ministério das Relações Exteriores (MRE) em Brasília, serão oito grupos de trabalho, no qual o país foi convidado, juntamente com o Senegal, para presidir o sétimo grupo e colaborar com outros países (seus nomes, segundo o Itamaraty, não foram divulgados). O grupo de trabalho terá a temática em volta da promoção do respeito ao direito internacional, por meio da solução da implementação de dois Estados.
21 de maio: Na última quarta-feira (21), foi aprovada no Senado o PL 2.159/2021, amplamente divulgado como “PL da Devastação”, após vir da Câmara dos Deputados, e sofrer agudas alterações nas comissões de meio ambiente e agricultura já da casa revisora. O texto permite que empresas realizem autolicenciamento, dispensando estudos de impacto ambiental e análises técnicas, flexibilizando o licenciamento ambiental no Brasil.
21 de maio: No dia 21 (quarta-feira), um ataque do Governo Israelense foi disparado contra uma delegação diplomática que visitava o campo de refugiados de Jenin, na Cisjordânia ocupada. A comitiva, formada por representantes diplomáticos de mais de 30 países, entre eles Brasil, França, Itália e Rússia, estavam em missão para avaliar a situação humanitária da região. Embora não tenha havido feridos pelos disparos, a ação israelense foi condenada pela comunidade internacional e agravou tensões diplomáticas de Israel com os demais países representados pela delegação no atentado.
22 de maio: Nesta quinta-feira (22), a Comissão de Anistia do Ministério dos Direitos Humanos concedeu anistia política à ex-presidente Dilma Rousseff em razão das violações de direitos humanos que sofreu durante a ditadura militar. Durante o processo, foram citados episódios em que Dilma foi agredida, afogada e colocada em pau-de-arara. Além da tortura física, a ex-presidente também sofreu tortura psicológica.
22 de maio: Arábia Saudita amplia restrição a compras de carne de frango brasileira: O quarto maior cliente do Brasil havia limitado o bloqueio apenas ao município de Montenegro, onde está localizado o foco da doença. Agora, a restrição afeta todo o estado do Rio Grande do Sul.
23 de maio: O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu no Palácio do Planalto, o presidente de Angola, João Lourenço. Os presidentes assinaram uma série de memorandos de entendimento para a cooperação nas áreas de direitos humanos, inovação em petróleo e energia, agricultura e proteção florestal, além de um acordo de cooperação para o enfrentamento do crime organizado transnacional, incluindo crimes de ódio e cibernéticos.
Semana 26 maio 2025
26 de maio: Países da UE pedem revisão de lei contra desmatamento apesar da destruição de florestas tropicais: Onze países da União Europeia pediram nesta segunda-feira (26) a revisão da lei contra o desmatamento ou um novo adiamento da sua entrada em vigor, prevista para o fim de 2025. O texto foi escrito por representantes do Luxemburgo e da Áustria e apoiado por nove outros países. Eles defendem que as condições impostas a agricultores e silvicultores são “elevadas ou até impossíveis de implementar”.
27 de maio: Guerra destruiu sistema agrícola de Gaza: apenas 4,6% das terras podem ser cultivadas, alerta a ONU: De acordo com a mais recente avaliação geoespacial da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), em colaboração com o Centro de Satélites das Nações Unidas (Unosat), apenas 4,6% das terras agrícolas de Gaza ainda são cultiváveis, ou seja, 688 hectares. Antes da guerra, praticamente metade do território do enclave era usado para a agricultura. Os especialistas temem o impacto dessa situação na segurança alimentar da população a longo prazo.
29 de maio: China pede cancelamento total de tarifaço aos EUA, após bloqueio das medidas por tribunal americano: A China fez um apelo aos Estados Unidos nesta quinta-feira (29) para que o país “cancele totalmente as tarifas alfandegárias unilaterais injustificadas”. Na véspera, um tribunal americano decidiu bloquear as medidas determinadas pelo presidente Donald Trump.
Semana 2 junho 2025
03 de junho: Musk diz que projeto de lei sobre impostos e gastos de Trump é ‘abominação repugnante’. O bilionário Elon Musk criticou severamente um projeto de lei sobre impostos e gastos apoiado pelo governo de Donald Trump, chamando-o de “abominação nojenta”. A crítica foi feita em sua rede social X, poucos dias após sua saída oficial do governo. Musk demonstrou indignação com a proposta, considerada por ele excessiva e inaceitável.
03 de junho: Candidato de centro-esquerda é eleito presidente da Coreia do Sul e promete diálogo com o Norte. Lee Jae-myung, candidato de centro-esquerda do Partido Democrata, foi eleito presidente da Coreia do Sul em 3 de junho, derrotando o conservador Kim Mon-soo com uma vantagem de oito pontos percentuais. A eleição ocorreu em meio a uma grave crise política causada por um decreto de lei marcial imposto pelo então presidente Yoon Suk Yeol em dezembro, que resultou em seu impeachment e destituição em abril. Durante seu discurso como presidente eleito, Lee prometeu unir o país, retomar o diálogo com a Coreia do Norte e priorizar a recuperação econômica. Ele enfrentará desafios como a tensão com Pyongyang, as tarifas comerciais impostas pelos EUA e uma das menores taxas de natalidade do mundo. A eleição teve alta participação popular e refletiu o desejo de renovação política após o autoritarismo recente.
02 de junho: Rússia entrega à Ucrânia termos de cessar-fogo e faz proposta, diz assessor. De acordo com a agência de notícias russa RIA, diplomatas fizeram duas sugestões para um cessar-fogo. A primeira proposta exige que a Ucrânia inicie uma retirada completa de todas as suas forças de quatro regiões do país que a Rússia reivindica como seu próprio território. Já a segunda opção seria um acordo sob um “pacote” contendo uma série de condições, disse a RIA.
08 de junho: Kiev escalou deliberadamente o conflito atacando bases aéreas russas, diz senador republicano. O senador republicano Tommy Tuberville afirmou, em entrevista no dia 8 de junho, que o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky estaria tentando envolver a OTAN no conflito com a Rússia por perceber que está perdendo a guerra. Segundo Tuberville, Zelensky não conseguiria vencer o conflito sozinho e, por isso, teria intensificado os ataques, incluindo ações contra bases aéreas russas com drones. O Ministério da Defesa da Rússia relatou esses ataques em várias regiões do país em 1º de junho.
04 de junho: Quem negocia com terroristas? Putin discursa sobre recentes ataques ucranianos contra Rússia. O chefe da delegação russa, Vladimir Medinsky, afirmou que Moscou deseja negociar condições de paz, e não apenas uma trégua temporária. Principais pontos discutidos: A Rússia está disposta a iniciar trocas de prisioneiros com a Ucrânia nos dias 7, 8 e 9 de junho, priorizando feridos, doentes graves e jovens militares. A Ucrânia propôs um cessar-fogo de 30 dias para preparar uma possível reunião entre Putin e Zelensky. A questão humanitária foi marginalizada nas negociações, segundo Medinsky. Lavrov criticou Zelensky por rejeitar pausas para a entrega de corpos e outras propostas humanitárias. Moscou acredita que a Ucrânia está tentando sabotar o processo de negociação, e Lavrov reforçou que a Rússia não deve ceder a provocações.
04 de junho: Trump’s tariffs and threatened trade actions. Os Estados Unidos dobraram as tarifas sobre importações de aço e alumínio, elevando as alíquotas de 25% para 50%, em mais uma ação do governo Trump no campo do comércio exterior. A medida coincide com o prazo final dado pela administração para que parceiros comerciais apresentem “melhores ofertas” e evitem novas tarifas programadas para entrar em vigor em julho.
04 de junho: What might happen if Israel’s parliament votes on dissolution next week? O partido de oposição Yesh Atid submeteu uma moção para dissolver o parlamento israelense (Knesset), com votação marcada para 11 de junho, em meio a crescentes tensões dentro da coalizão de direita liderada por Benjamin Netanyahu. Principais pontos: Composição da Knesset: Total de assentos: 120. Maioria simples para aprovação da moção: 61 votos. A atual coalizão governista tem maioria de cerca de 68 assentos. Procedimento legislativo: A moção passa por quatro votações; a última exige maioria absoluta para virar lei. Se aprovada, uma nova eleição deve ocorrer em até cinco meses. O processo pode ser acelerado ou arrastar-se por meses. Estratégia da oposição: O Yesh Atid só levará a moção à votação se tiver maioria garantida. Caso contrário, pode retirar a proposta até 11 de junho. Cenários alternativos: Partidos ultraortodoxos (Shas e Judaísmo Unido da Torá), insatisfeitos com a falta de lei que isente religiosos do serviço militar, podem sair da coalizão. Mesmo assim, podem optar por não apoiar a dissolução, permitindo a continuação de um governo de minoria.
Semana 09 junho 2025
13 de junho: Durante a madrugada do dia 12 para o dia 13 de junho, Israel lançou um ataque contra estruturas iranianas, resultando em 78 mortes somente na capital, Teerã, e mais de 320 ficaram feridas. Dentre as mortes, estão líderes militares iranianos e cientistas nucleares.
13 de junho: Após os ataques israelenses, a preocupação com a escalada do conflito no Oriente Médio provocou um aumento do preço do petróleo, dada a importância da região na produção do insumo.
Semana 16 junho 2025
16 de junho: O mais grave confronto direto entre Irã e Israel continua a se intensificar e chegou ao quarto dia nesta segunda-feira (16), após um fim de semana marcado por centenas de mortes, ataques diurnos e de longo alcance. A escalada do conflito preocupa líderes mundiais e aumenta a tensão entre as potências do Oriente Médio.
19 de junho: Os líderes dos países do G7, grupo que reúne as maiores nações do mundo, assinaram uma declaração conjunta pedindo a redução da tensão entre Israel e Irã. Os Estados Unidos faz parte do grupo, mas ficou de fora e não assinou o documento.
Agrinvest Commodities, Curitiba PR – https://agrinvest.agr.br/
A entrevista destacou a forte exportação brasileira de soja — mais de 70% exportada para a China — e o impacto das disputas comerciais entre EUA e China, que beneficiaram o Brasil em um primeiro momento, mas também trazem riscos a médio prazo. Foram apontados gargalos logísticos como obstáculo às exportações e o acordo Mercosul-UE foi avaliado positivamente por abrir novos mercados. Foram mencionadas diferenças entre os governos Lula e Bolsonaro, sendo o cenário atual de disputas tarifárias avaliado como instável política e economicamente. Por fim, ressaltou-se o potencial de expansão agrícola e a importância das exigências internacionais de sustentabilidade como oportunidades de valorização das commodities brasileiras.
Leia aqui entrevista Agrinvest
Boa tarde, prazer estar aqui com vocês. Agradeço pelo convite. Sempre muito bom poder trocar informações e estar contribuindo junto com vocês. Eu trabalho na Agrinvest faz cinco anos, cinco anos e meio. É o meu primeiro contato com o agronegócio. Sou formado em administração, tenho algumas voltadas para gerenciamento estratégico, desenvolvimento de lideranças e equipes, e o agronegócio veio como divisor de águas na minha carreira, e hoje eu atuo em contato diário com produtores, do norte ao sul do Brasil, pessoal da indústria de rações, enfim, e também as comerciantes de grãos, trading, cooperativa, cerealista.
[Gostaria de] perguntar sobre o modelo comercial da Agroinvest, que eu vi que, por exemplo, que é mais diferente, não é só um tipo de exportação e importação de produtos agrícolas. Queria saber um pouquinho mais de como é feito, na empresa?
Legal, vamos lá. Até para iniciar, a nossa trajetória foi há 42 anos atrás, no estado do Mato Grosso do Sul, em Campo Grande. Hoje a nossa matriz é em Curitiba, estou em Curitiba. Mas de lá para cá o nosso trabalho tem sido com foco 100% na comercialização de grãos. Então, nós conseguimos atender tanto o consumidor quanto o vendedor, obviamente, na parte de estratégia para comercialização. No início era apenas a corretagem, vamos pensar Maria precisa de soja e João vende soja. Então a Agrinvest ela entra como uma intermediadora dentro desse negócio. É a primeira atividade, vamos pensar assim. De lá pra cá, além da parte do mercado físico, mercado interno aqui no Brasil, nós negociamos mercado de exportação, soja e milho. Então temos essa noção do mercado interno, mercado de exportação e junto a isso veio a parte da consultoria que é onde eu tô atuando hoje. Onde nós acompanhamos esse cenário tanto mercado interno, mercado externo, e alimentamos uma plataforma de informações diariamente, com notícias da soja, do milho, câmbio. Então, nosso trabalho hoje, além de estar voltado para a parte de estratégia, também acompanhamos as negociações do mercado físico mesmo, seja a compra ou a venda. Mercado interno, mercado externo e toda essa parte de estratégia envolvendo aí as análises.
A próxima pergunta seria qual o percentual de produção que tem destino externo, para a gente ter uma ideia.
Legal, eu estava até dando uma olhada em alguns números […], e um dado interessante para a gente poder conversar, pensando em Brasil, hoje a nossa produção estimada de soja, pegando soja como exemplo, está em 170 milhões de toneladas, perspectivas agora para essa safra. Se nós olharmos para a safra 2021, o nosso número era de 139 milhões de toneladas. Ou seja, em quatro anos nós tivemos um acréscimo de mais ou menos 30 milhões de toneladas somente aqui no Brasil. Se nós formos pegar um consumo, China, pensando no nosso principal cliente, que é a China, hoje 70%, nessa temporada um número um pouco acima, até mesmo por conta das questões envolvendo a guerra entre Estados Unidos e China, mas no geral 70% do nosso volume é exportado para a China. Então, se formos pegar desse 170 [milhões], que é o nosso recorde de produção histórica hoje, mais de 70% é destinado à China. […] Em relação ao consumo, 2020 e 2021 era de 115 milhões de toneladas de soja na China. Hoje estamos falando de 128 milhões de toneladas. Mais ou menos o que o Brasil exporta é o que a China consome, é a maior, sem dúvida, importadora de soja do mundo.
E quais seriam os gargalos em relação à logística, alguns problemas de custo e transporte, como seriam essas questões?
Interessante, primeiro justamente nessa safra, nessa temporada, que eu não comentei com vocês é a safra recorde, nós estamos produzindo soja é mais de 170 milhões e já tivemos um problema logístico. Nós temos um grande gargalo hoje no Brasil, que é a questão logística e também a questão de armazenagem, temos um grande problema: os produtores têm um aumento de área mas em alguns casos, até mesmo por conta do investimento, o principal motivo, acaba limitando um pouco essa questão de armazenagem e gera algumas complicações sim. Hoje um gargalo, vamos pensar assim de bastante relevância é a parte logística, sem dúvida nenhuma. Estamos melhorando se fomos olhar, no período histórico, estamos evoluindo nesse ponto mas existem ainda pontos a serem melhorados sem dúvida nenhuma.
[…] E agora, em relação à política externa realmente, como a Agroinvest veria a questão do acordo Mercosul e União Europeia? Então, quais seriam as expectativas se ele fosse implementado, qual o impacto para o Brasil? E qual seria sua posição sobre isso?
Nós, como grandes produtores de commodities soja e milho, enfim, se vamos olhar a balança comercial, nós somos dependentes, sem dúvida, da exportação, então todo o acordo que traga benefícios para o nosso mercado interno sempre é muito, enfim, sempre é necessário buscar métodos para que se concretize. […] no momento estamos vivendo essa guerra comercial entre EUA e China, o Brasil para essa época do ano para vocês terem uma ideia, nosso preço aqui, o nosso prêmio como nós chamamos ele tende a ser negativo, justamente por conta dessa entrada de safra. É em uma safra maior, automaticamente nós temos os prêmios mais desvalorizados, mediante esses riscos envolvendo a geopolítica, tanto EUA, China e Europa, todas essas questões que nós estamos acompanhando de perto, trouxeram uma demanda muito ativa para o Brasil no primeiro semestre, ou seja, prêmios em abril por exemplo que foram as máximas da temporada que são negociados os preços negativos, nós acompanhamos, preços positivos justamente por isso, uma demanda que era direcionada para os EUA, ela tende a vir para o Brasil e com isso nós acreditamos que ela tende a se manter até o final do ano, então um acordo ele sempre é bem-vindo, nesse caso estamos vendo uma dependência muito grande do Brasil, até mesmo como eu mostrei para vocês, nós somos, nos últimos 6 ou 7 anos para cá, somos o único estado produtor, o país produtor que tem aumentado sua produção, os outros estados tem se mantido na linha, justamente por falta de área para expandir suas produções e nós além de sermos, pelo menos ali com duas safras por ano, somos um ponto fora da curva no cenário internacional. Ainda nós temos essa capacidade de aumentar, então, sem dúvida, o agronegócio é um grande potencial e toda relação, todo acordo, seja interno ou externo para viabilizar as operações, eu vejo que faz total sentido, nós temos muito a crescer, estamos evoluindo nesse processo mas todo acordo comercial favorável, sempre é visto com bons olhos.
Em relação à China, tem algumas perspectivas interessantes, como você falou, é hoje uma das principais parceiras comerciais do Brasil, do agronegócio brasileiro. Mas nos últimos meses o mercado brasileiro também tem sido influenciado pelas medidas tarifárias dos EUA da gestão do Donald Trump. Nesse contexto, como a Agroinvest e você também, pela sua perspectiva pessoal, enxerga a participação do mercado asiático no geral, não só a China mas também agora o Vietnã? Agora recentemente foram feitos acordos em relação à carne e imagino que commodities também, não tenho esse conhecimento mas a gente gostaria de saber. E outra pergunta: essa disputas comerciais entre essas grandes potências, tem impactado de alguma forma as estratégias da empresa, da Agroinvest no geral? Você vê isso como um cenário que cria oportunidades para o Brasil de desenvolvimento em algum setor do agronegócio?
Excelente pergunta. Bom, se nós formos olhar em relação aos principais comerciantes do mundo são China, EUA, Brasil, União Europeia, temos o México e todos eles são muito dependentes um do outro, seja por comércio de exportação ou importação, então qualquer relação principalmente envolvendo EUA e China, que são as duas principais potências do mundo, trazem reflexo diretamente ou indiretamente para as outras origens. Por exemplo nesse caso [disputas tarifárias] envolvendo EUA e China, já é um reflexo que nós estamos acompanhando no mercado, seja nas bolsas, seja no crescimento do PIB, seja até mesmo no mercado de trabalho, nos EUA. Ou seja, uma tensão envolvendo tarifas entre essas duas principais economias, isso reflete diretamente no andamento e no desenvolvimento dos outros países, nós já tivemos nesse primeiro semestre uma retração, tanto em perspectivas de análise em relação a PIB, China por exemplo, enfim tensões envolvendo o mercado de trabalho nos EUA, então não é somente uma tensão envolvendo tarifas mas sim com reflexos que pode impactar diretamente as principais economias do mundo. Então, nós sim acreditamos que isso pode trazer problemas. Como eu falei no início, o país com essa proporção, com essa dimensão de negócios, a gente sabe que sempre vai ter um problema ou outro, mas não é interessante que eles estejam em disputa, até mesmo porque todo o cenário no final das contas eles são complementares, então no caso do Brasil, nesses últimos meses foi favorecido por conta dessa demanda mas uma hora… Enfim o Brasil, mesmo com toda essa soja, tem um programa a ser cumprido para a Europa e outros destinos, África por exemplo, então não tem como… Ah vamos atender a demanda da China mas e as outras demandas também precisam ser cumpridas, então eu vejo que qualquer tensão envolvendo as principais economias do mundo elas não são positivas para os nossos negócios. A nossa empresa sempre se posiciona dentro da nossa gestão estratégica, para os produtos, para as indústrias, a gente sempre bate muito nisso, temos que analisar a oferta e demanda mas também analisar o cenário como muda, não temos como bater o martelo e dizer que vai ser essa mesma estratégia até o final do ano, porque o mercado está muito volátil.
[…] Sim, todos os dias tem atualizações novas, hoje mesmo eu ouvi uma notícia de que a China admitiu voltar com as negociações com os EUA, mas exigiu que eles tirem as tarifas antes disso […]
Eu ia comentar que na segunda feira nos tivemos um movimento envolvendo os EUA, Donald Trump falou que estavam com as cartas na mesa para negociar com a China, enfim durante a semana a China falou que não teve conversa nenhuma e que apenas é blefe dos EUA e no caso, a conversa é curta e direta, enquanto não retirar as tarifas, não tem conversa, então esse é o ponto, fica nesse truco do mago um para o outro.
Essa próxima pergunta é em relação a um assunto doméstico. Nós sabemos que, na política externa, o Brasil tem certa polaridade com os objetivos políticos entre os governos, têm uma polaridade política dentro do Brasil e cada um desses polos políticos do Brasil tem objetivos muitos distintos sobre o que deve ser a política externa brasileira. Talvez você ou a Agroinvest perceberam alguma diferença entre os governos Lula 3 e a gestão do governo Bolsonaro, especialmente ao setor de commodities no geral? Como essas mudanças impactaram e impactam as estratégias comerciais da empresa? Por que a gente sabe que são mudanças que existem, nós gostaríamos de saber qual o tamanho do impacto delas?
Sim. Sem dúvida, essa mudança de governo… como em qualquer outro lugar do mundo existem diferenças, mas essa mudança aqui no Brasil e recentemente nos EUA tivemos essa mudança também, então isso gera uma nova diretriz, o ponto que eu diria para você é que acho que pela conjuntura do cenário internacional, com guerras envolvendo a geopolítica, tivemos Rússia e Ucrânia, enfim diversos acontecimentos globais, o principal ponto aqui na minha opinião com o contato diariamente aí com o setor é uma certa incerteza com relação aos próximos meses, e isso muda totalmente o cenário de tomada de decisão, se o produtor vai precisar comprar ou se uma indústria vai precisar fazer investimento a longo prazo, precisa investir num cenário de qualificação ou enfim tudo envolve uma incerteza, eu diria que o principal ponto diante desse cenário é uma incerteza, vamos pensar assim, um passo atrás para a tomada de decisão, visando todo esse cenário. Quando tem muita volatilidade, as tomadas de decisões elas tendem a ser um pouco mais tardias, mais demoradas enfim, deve ser analisado o cenário com mais cautela, digo para você que a principal mudança nesse caso é uma incerteza por parte do produtor, por parte da indústria. Eu acho que para um empresário, seja qual for o seguimento em um cenário de muita incerteza, com juros altos, enfim, incertezas políticas, tudo isso […] sem dúvida nenhuma entra na conta. […] tem uma incerteza maior na hora de tomar a decisão, uma incerteza em meio aos riscos.
Minha próxima pergunta seria justamente a isso, quais as expectativas para a inserção internacional das commodities nos próximos anos […]?
[…] Além de todo esse potencial de produção que eu mostrei para vocês de início, saímos de uma safra de 140 milhões para atuais 170 milhões, ou seja, recorde total, e o que eu digo sempre: o Brasil é um celeiro de oportunidades pensando no agronegócio. Nós, além de estarmos aí dominando como principais exportadores, produtores, nós temos ainda uma grande janela para aumento de área, eu diria que esse é umas das grandes vantagens competitivas do nosso setor hoje, além de toda essa potência que nós já somos ainda temos um potencial diferente dos EUA por exemplo, que é o nosso principal concorrente, que nós temos oportunidades de avançar em área, então os próximos anos, temos essa dependência total de exportação, então os outros países dependem do Brasil e ainda nós conseguimos ofertar maior número de produção e isso ao ponto de ter uma vantagem competitiva fora da curva no Brasil.
Em relação a tendências, existe alguma tendência de diversificação dos mercados para os quais vocês exportam ou dos quais importam, ou das commodities que são exportadas e importadas?
O nosso principal foco aqui é soja, milho e derivados, nosso principal mercado, envolvendo aí farelo e óleo, temos algumas outras culturas, acompanhamos o mercado de boi e o mercado de trigo mas o nosso foco hoje, é soja, milho e derivados. Eu diria que tem uma grande vantagem aí, dentro dessa cultura do milho, até mesmo por uma demanda do mercado interno, para as indústrias de etanol, temos algumas plantas já em andamento, algumas já ativas e algumas com o potencial de expansão nos próximos anos, então eu diria que a grande bola da vez é o milho para esse ano, para as próximas temporadas por conta dessa demanda maior interna no Brasil.
Em relação a exigências internacionais, as commodities agrícolas enfrentam muitas exigências internacionais, a depender dos mercados em termos de qualidade, especificações, sustentabilidade, como que a empresa lida com esses tipos de exigências? Vocês veem isso como um desafio ou talvez como uma forma de agregar valor a seus produtos e conseguir esses certificados, atendendo a essas exigências? Como vocês enxergam esses mercados que têm essas exigências, por exemplo, como é o caso dos mercados da Europa?
[…] Sempre há um ponto para agregar, isso é uma forma de se trazer retorno para a qualidade, enfim tem alguns pontos que sim tornam o processo de certa forma um pouco mais burocrático, mas que no final das contas […] nós temos um grande potencial, agregando mais do que já agregamos, somos o primeiro e principal exportador de soja, por exemplo, pro mundo todo, e essas exigências, esses regulamentos eles servem para balizar o mercado. Chega a um ponto interessante, até mesmo na China para essa semana nós tivemos algumas restrições envolvendo a soja chega lá, […] demora-se mais para fazer a averiguação dos navios e das cargas vindas do Brasil neste momento, isso gera um pouco mais de tempo e no final da conta sempre agrega um pouco mais de preço, o navio aguardando para descarregar ele gera um preço, quanto mais tempo ele fica no porto e não somente para a China mas para qualquer lugar, então eu vejo que quanto mais regulamentado tiver esse mercado é melhor para nós, abre mais portas, abre mais negociações, abre mais origens para estarmos exportando, enfim. Eu vejo que tudo isso sim, sem dúvida nenhuma, é benéfico para o nosso cenário do agronegócio no Brasil. Quanto mais regulamentos tivermos, melhor.
[…]
Nós temos uma linha voltada para o educacional, então para quem se interessar, poxa gosto dessa linha do mercado, comercialização, entender um pouco mais, nós temos aqui alguns modelos para quem está começando e para quem já atua, enfim, estou também à disposição e faço o convite para que conheçam melhor o nosso trabalho.
Nós agradecemos também muito pela participação e suas contribuições foram muito importantes para a nossa atividade.
Aurora Coop – Cooperativa de Alimentos, Chapecó SC – https://auroracoop.com.br/
A entrevista ressaltou a importância do agronegócio para a economia brasileira e os desafios logísticos, comerciais e políticos para exportação de aves e suínos. Também explicou a importância da diplomacia para abrir e manter mercados internacionais. Elencou os atrasos logísticos e as barreiras tarifárias e não tarifárias enfrentadas nas exportações, além de comentar sobre oportunidades para o setor agrícola do acordo Mercosul-União Europeia e sobre a necessidade de estabilidade política para o desenvolvimento econômico.
Leia aqui entrevista Aurora
Eu sou formado, sou do lado da administração, mas eu trabalho com relações internacionais, relações nacionais e relações governamentais. Então, aí a gente tem uma ação tripartite para apoiar a organização que eu hoje represento. E não só a organização, mas também através de associações, entidades de classe também, a gente acaba apoiando o setor como um todo.
O senhor também trabalha conversando com entidades políticas?
Sim, é tudo, né? Então a gente costuma mapear os stakeholders relevantes pro negócio, pro setor e também pra organização a qual eu represento, que é a Cooperativa Aurora. E, dentro dos stakeholders, a gente elenca ali os temas prioritários e também os tomadores de decisão prioritários para atuar junto a eles, para poder subsidiar a eles com informações necessárias para que eles tomem sempre as melhores decisões. E isso aí envolve o Senado, Câmara, governadores, governos de países estrangeiros, entidades de base também, entidades do terceiro setor, que são importantes também como formadores de opinião. Então, a depender do tema e dos tecnólogos envolvidos, a gente monta estratégia também, que aí são várias, né? Então, a gente faz esse… é basicamente relações institucionais e governamentais a nível global. Nacional e global. Então, é uma área interessante. Mas já transmito a vocês que é uma área desafiadora. Como vocês podem ver, o cenário já é politicamente bagunçado. Por conta de decisões multilaterais. Então, toma bastante seu tempo. Obviamente você vai trabalhar 7 dias por semana, 24 horas por dia […] Eu acho que é uma área super importante. Também, um dos nossos stakeholders relevantes é o próprio Itamaraty, que tem muitos profissionais com a formação de vocês. Então, tem uma relação muito próxima lá com embaixadores, não só no Brasil, mas fora dele também. E é uma área interessante para seguir carreira também. Os colegas que atuam lá no Itamaraty, eles não gostam muito porque é muito militarizado o Itamaraty, né? Então tem uma certa… Os protocolos, né? São muito rígidos, mas eu acho interessante. Por exemplo, você não seguiu ali a carreira diplomática, mas seguiu ali via SECOM, que aí você atua com problemas econômicos, né? Tem algumas estruturas. Não necessariamente todos que seguem com carreira diplomática querem seguir como embaixador. Tem muita gente ali que segue outras estruturas e outras atividades. Aí a gente faz um pouco de tudo. A gente tenta fazer com que os interesses sejam conhecidos, reconhecidos.
[…]
A gente tá em Relações Internacionais e a gente tá cursando uma matéria chamada Política Externa Brasileira. E é justamente por isso que a gente chamou, a gente está pesquisando essas empresas do agronegócio. A gente tem esse objetivo de saber as demandas, as necessidades dos agricultores. […] Então, primeiramente assim, você pode dar um contexto sobre o seu cargo, o que você faz, você já deu um pouquinho antes, mas as suas trajetórias assim. Como você começou na empresa?
É uma honra estar falando com vocês hoje, participando desse projeto. Espero que eu consiga retribuir. […] eu atuo no setor de frigoríficos há 22 anos. Iniciei minha carreira no Ministério da Agricultura, no Serviço de Pesquisa Federal. Depois eu atuei com uma multinacional, uma empresa de setores frigoríficos. E depois de 17 anos eu recebi o convite da Cooperativa Aurora para estruturar a área de relações institucionais e governamentais. E aqui estou há quase 3 anos. A minha formação é administrador, mas eu já atuo desde sempre, desde que me conheço por gente, com relações internacionais. Em 2005, a empresa a qual eu representava, a Perdigão, ela me contratou, ela me tirou do serviço público. Não era público, porque eu não era concursado, mas eu era prestador de serviço para o MAPA, era um curso que tem servidor público e funcionário público. Eu era funcionário público, era um regime serventista, era diferente. Naquela época, a [multinacional] tinha muita dificuldade com interação e entender como funcionavam as normativas do Ministério da Agricultura e também em conversar com os auditores do MAPA. Eles me chamaram, me convidaram para fazer parte do quadro e facilitar a interlocução entre o público privado. Lá em 2005, desde então que eu comecei a fazer essa função principalmente pra Receita Federal, principalmente pra outsourcing da administração pública e entrando também no campo político, que eu sempre gosto de mencionar, que a demanda precisa ser legítima, ela precisa ter um embasamento técnico, é importante, mas no final do dia quem toma decisão é o político. Então, como vocês sabem, as relações internacionais e governamentais, ela está no quadro de funções do Ministério do Trabalho, mas ela é popularmente conhecida como lobby, como lobbyista. Sou lobbyista profissional e atuo para o setor e as empresas, hoje representando a Aurora. A minha função é fazer valer os interesses da cooperativa e do setor. A gente está agrupado em entidade setorial. Por exemplo, Santa Catarina tem conhecimento de carnes […]. Aí a atuação é fazer valer os interesses da cooperativa e do setor, que eles sejam conhecidos, reconhecidos pelos tomadores de decisão, sejam eles a nível nacional ou internacional, em outros países. É bastante trabalho, ainda estou estruturando a área. Na outra empresa a gente era 17 pessoas, hoje somos 2, mas a gente tem os planos de expandir o setor, contratar mais profissionais para trabalhar com a gente aqui na Aurora e apoiar nesse monte de informações e monte de coisas acontecendo ao mesmo tempo, e a gente poder pegar as informações, que é o suprassumo de qualquer ação de lobby, é a gente pegar as informações, pra gente entender o contexto e aí a gente poder fazer uma campanha interessante junto ao stakeholder relevante para a organização. Essa é a minha função, isso que eu tenho feito nos últimos 19 ou 20 anos.
[…] A primeira pergunta seria quais são os produtos exportados atualmente e os principais produtos também e os principais mercados de destino? Então os principais países que a cooperativa exporta.
A Cooperativa Aurora exporta ao mercado internacional predominantemente cortes das espécies suínas e aves. Eu acho que vocês devem ter visto no site. Inclusive, a Aurora, hoje, de tudo que é exportado pelo Brasil referente à carne suína, 24,6% é a Aurora que exporta. É muita coisa. A Aurora hoje é a maior exportadora de carne suína, não só de Santa Catarina, mas do Brasil. E temos como mercados relevantes a Ásia, como vocês devem acompanhar, a China é nosso maior comprador, mas temos também participação no mercado do Japão, Coreia do Sul, América do Norte também, Estados Unidos, a gente foi o precursor das exportações aos Estados Unidos de carne suína, que os Estados Unidos também é um grande produtor de carne suína e a gente tá lá, através da nossa qualidade, conhecida e reconhecida pelo mercado norte-americano e asiático, a gente tá presente de forma sólida nesses países. Canadá, México também, a gente pega toda a América do Norte e estamos em plena expansão. E aves também. Aves, 6,8% do que é exportado de carne de aves ao mundo é Aurora que performa. Aí é a origem do Brasil. Das exportações brasileiras, 6,8% é Aurora que performa. E aí a gente está presente também nesses mesmos mercados, exceto Estados Unidos, que é o mercado fechado para carne de aves no Brasil. […] É o sonho que aconteceu lá na década de 70, tinha pequenos produtores do oeste catarinense de Chapecó. Na década de 70, pequenas cooperativas se uniram para formar a Cooperativa Central Aurora de Alimentos, que é uma cooperativa de segundo grau. Porque, na época, essas cooperativas criavam os animais para bate e vendiam no mercado para os grandes frigoríficos. Na época eram Perdigão, Sadia e Seara. E o mercado era muito volátil. Tinha ano que rentabilizava o produtor rural, em outros momentos não. Os produtores ali com muita dificuldade de se manter decidiram ”por que a gente não investe no frigorífico e a gente abate os animais, a gente faz os cortes, a gente cria a nossa marca e a gente vai para o mercado?”. Na época parecia loucura, porque o mercado já era dominado pelos grandes frigoríficos. Frigoríficos de 44, de 54. Então, a Aurora não tinha know-how nenhum para o processamento da carne. E foi onde surgiu e foi adquirindo o primeiro frigorífico. E a coisa deu tão certo que hoje a Cooperativa Aurora é o terceiro conglomerado de carnes do Brasil, atrás somente da JBS e BRF e compete de igual para igual no mercado nacional e internacional. Inclusive, a gente é líder de mercado em vários países, como Estados Unidos, Canadá e outros. Assim como mercados de outras regiões do Brasil, como São Paulo. Então, tudo isso é um crescimento muito sólido voltado à qualidade, à percepção do consumidor nos produtos Aurora. Como a gente estava crescendo, a gente conseguiu captar essas demandas de mercado e trazer para dentro da cooperativa e fazer com que o atendimento fosse diferente do que as demais já prestavam.
E você tem um número, um percentual de quanto da produção de vocês é destinado para exportação?
40%. Próximo a 40%, mas podemos considerar 40%. […] A exportação é muito importante não só pra Aurora, mas pra qualquer segmento. Pra fazer também o balanço do caixa. Porque às vezes o mercado internacional não está demandando tanto ou a precificação dos produtos ali não tá dentro do esperado e o mercado interno ali por vezes acaba precificando mais que o mercado externo, aí a gente faz esse intercâmbio. Hoje o mercado externo, aliás, nos últimos anos ele tem precificado e elevado também, comprado um volume interessante. Então o mercado externo faz com que a gente prospecte aí uma evolução de rentabilidade maior.
E pra exportação, tem algum desafio, alguma dificuldade nesse processo, um gargalo logístico, ou às vezes alguma certificação? Qual é o maior desafio que vocês enfrentam?
São muitos, e os desafios até são temas que eu acho que são muito importantes para vocês. Internamente a gente tem um gargalo logístico, de fato, o Brasil tá atrasado há 20 anos. Não é só na infraestrutura logística. Infraestrutura a gente pega tudo. Estradas, tá atrasado, portos também, comparados aos portos internacionais. Por exemplo, Singapura, Xangai, a gente tá muito atrás. Inclusive os portos brasileiros não tem “calado” para receber navios de nova geração. A gente está 3, 4 gerações atrás. “Calado”, não sei se vocês conhecem o termo, mas é o nível do acesso de água que precisa ter para um navio de grande porte, ele entrar, atracar no porto e não bater no fundo, não arrastar, ou até mesmo encalhar. Então a gente tem um problema sério. E a gente não enxerga aí ações dos governos em geral, porque não pode colocar só na conta do Governo Federal, porque a gente sabe que muitas rodovias também são de gestão estadual. Então, é complicado. Não sei se vocês viajaram agora, feriado, provavelmente, mas vocês viram ali que os carros de passeio dividem o espaço com caminhões. […] Isso não é legal. Precisa ter um investimento em novos modais de transporte, como ferroviário, ou hidroviário, enfim. Então isso é uma coisa que impacta a capacidade. Depois tem temas até interessantes, que são as barreiras tarifárias e não-tarifárias, barreiras técnicas também, que vocês devem ter estudado no curso, que pode ser ou não alvo de abertura de painel na OMC. Então, isso impacta bastante, principalmente as barreiras não-tarifárias, porque é muito difícil de contestar quando um país impõe uma regra, uma norma, que não tem amparo técnico nenhum, amparo científico nenhum, e aí você tem que contestar isso na OMC. […] Estamos aí há, no mínimo, há 20 anos atrás, sabe? Atrasado. Então, precisaria de investimentos ou políticas públicas permitindo que investimentos privados sejam realizados em larga escala pra gente poder tentar tirar um pouco esse passivo. Que atrapalha não só o setor de carnes, mas vários outros setores da economia brasileira.
E o principal porto de escoamento seria o de Itajaí mesmo? Ou vocês exportam partindo de vários outros portos do Brasil?
Não, tranquilo, essa pergunta é importante. Bom, as exportações nunca se concentram em um porto ou uma região. Uma vez em 2008, vocês devem lembrar, houve uma enchente de grandes proporções em Itajaí que acabou fechando o porto e o porto ficou aí meses não operante, não só Itajaí, mas Navegantes, que são dois portos que ficam de frente com o outro. A gente pode até chamar o grupo portuário da região Itajaí-Navegantes. Mas é importante operar em outros portos para que você também consiga negociar melhores tarifas também. Você estimular a concorrência entre portos para você também obter ganho. A gente exporta pelo porto de Itajaí, Navegantes, Itapoá, Paranaguá, Rio Grande. Então, a gente tá presente em todos os portos, às vezes um pouco mais, um pouco menos. E dada a facilidade também de acessar os portos daqui da foz Itajaí, há sim um volume considerável exportado por esses dois portos.
Agora a gente vai perguntar um pouco mais sobre o mercado externo, que realmente é o foco da nossa matéria, da nossa entrevista. Então, primeiro, considerando todo esse cenário que a gente está vivendo com o Trump, a guerra tarifária, a gente viu que o Trump taxou o Brasil 10%. E a gente vê também o Trump e a guerra com a China, os dois mutuamente, elevaram as tarifas quase inviabilizando o comércio entre eles. Como a cooperativa se vê nesse cenário? Como isso afeta a exportação da empresa? É bom, é ruim?
A princípio, impactos imediatos não ocorreram. Claro, essa guerra tarifária não é boa pra ninguém. Os impactos ali, a médio e longo prazo, vão surgir. A respeito das exportações, a princípio não houve nenhuma alteração considerável. A gente pode chegar em dois cenários. Esse cenário, por exemplo, impactar o consumo nos países mais prejudicados, por exemplo, China, que precisa exportar seus produtos e precisa manter a renda da classe média, a classe média empregada e tendo a renda para consumo. Isso pode afetar o consumo da China e, afetando o consumo da China, afeta o consumo do setor de carnes. Tem esse impacto que pode ocorrer. Eu não acredito que essa guerra tarifária vá perdurar por muito tempo porque isso vai inflacionar todos os países envolvidos. Brasil é só 10%, é baixo, mas claro, pode trazer impacto considerável, mas considerando os países mais tarifados, isso pode gerar uma situação econômica que aí sim vai trazer consequências sérias a nível global. Mas também temos que ter um outro olhar, um olhar das oportunidades. Como essa guerra está tomando proporções indesejadas e me parece que o acordo não deva ser chegado a curto-médio prazo, isso pode trazer oportunidades ao Brasil. Que o Brasil é um grande exportador de alimentos, aumentando a inflação a gente consegue produzir um produto de qualidade a um preço competitivo. Isso é muito bom. Isso é fruto de muito trabalho por décadas. A gente não conseguiu isso da noite para o dia. E dificilmente os países, mesmo que eles invistam na produção de alimentos, é muito difícil eles chegarem a um nível de competitividade que o Brasil hoje detém. Então isso pode ser uma oportunidade também. Por exemplo, nos Estados Unidos, nessa guerra comercial, os europeus, que têm indicado retaliar os Estados Unidos também em alguns pontos, talvez aí eles tragam impacto negativo aos Estados Unidos. Então, frente ao consumo de alimentos menor dos americanos, isso pode abrir espaço para o Brasil como um fornecedor. Então, é um momento de muita cautela, um momento para mais a gente acompanhar o cenário e claro, analisar todas as informações que vão surgindo diariamente para a gente se posicionar. Mas hoje a posição do Brasil dentro do cenário global é um cenário de acompanhar, de assistir com muita cautela, ao tomar o posicionamento, ao falar sobre isso. Então, nos preocupa muito. Às vezes o governo federal, em entrevista, que está com uma agenda internacional bem aquecida, às vezes ali ele é botado com um jornalista e faz um comentário e esse comentário pode não ser bem recebido. Então, a gente vai fazendo acompanhamento. É o momento de a gente ficar atrás do formigueiro, acompanhando e esperando a poeira baixar. Depois que a poeira baixar, a gente segue e, claro, com foco em oportunidades. Talvez aí essa ação norte-americana possa provocar uma reação de outros países para acelerar negociações bilaterais ou multilaterais, deixando os Estados Unidos um pouco de fora e a considerar também que os Estados Unidos, hoje, é o nosso grande concorrente no setor de carnes. Nós tomamos a dianteira, hoje nós somos líderes na produção especialmente de carne de frango, e aí é uma solução incômoda para eles também, que tem inclusive, nos últimos dois anos, eles têm sofrido bastante com enfermidades aviárias, com a gripe aviária que tem causado um estrago grande para o plantel norte-americano.
Qual é a sua opinião sobre o acordo entre a União Europeia e o Mercosul? […]
Aí eu vou expressar uma opinião mesmo, você pediu opinião, eu vou responder com opinião. Minha opinião é que acordo Mercosul e União Europeia vai ser benéfico para ambos. Hoje, o que nós temos aqui na América do Sul é um continente, países com recursos naturais em abundância e a gente consegue produzir alimentos, especialmente no centro de alimentos ou minério, enfim, a gente consegue fornecer para a União Europeia produtos que eles não conseguem produzir com a mesma qualidade e com preços competitivos. E também eles precisam de matéria prima, matéria prima pra produção local e poder exportar os produtos. Até eu estive na África em fevereiro, no final de fevereiro, em março, em quatro países da África, e eu estive assistindo reuniões com empresários, governos, enfim, e foi uma das coisas que eu levei a eles, que me pareceu que ninguém tinha levado essa visão, que é a visão de complementaridade. A visão é a seguinte: cada país tem que elencar seus 4 pilares de commodities e investir para ficar forte naquilo, não adianta você achar, é utopia, você pensar que o país vai ser bom em tudo, vai conseguir introduzir tudo, atender seu consumo interno, isso não existe, isso é utopia. Ninguém é capaz, nem o Brasil é capaz. A gente é importador também, se você pegar a balança comercial, a gente importa muito equipamento eletro-eletrônico. Então vamos focar, a gente tem enfoque no agrícola, [o setor do agronegócio] corresponde a 25,26% do PIB nacional. É muita coisa. E é o maior empregador do Brasil, hoje, o setor do agronegócio. Que leva riqueza e renda para regiões mais inóspitas em todo o território nacional. Então, é uma potência. Por quê? A gente investiu, vai ficar bom. E aí, a visão dos europeus e também dos países como do Mercosul, os blocos, precisa ter essa visão, esse pensamento. Às vezes, os economistas, eles pegam uma linha, uma vertente econômica “ah mas o setor X” não vai ser, nunca vai ser. Nenhum país também vai ganhar sempre, vai ganhar em tudo numa negociação. Na verdade, existe um termo que a gente costuma usar, que é o trade-off. Ou seja, uma negociação tu vai perder aqui, mas tu vai ganhar aqui, e aí tu tenta equalizar ali entre perdas e ganhos, e você tenta ganhar mais do que você perde, mas você tem que considerar que você vai perder. Então, os economistas, às vezes, eles pegam, por exemplo, um ponto da economia, ou um ou dois setores, e analisam só aquilo lá, mas não, você tem que analisar o conjunto, o macro. Tem que ser uma macroanálise, não uma microanálise. E hoje, sim, em uma macroanálise, hoje é muito benéfico pro bloco do mercado europeu, assim como o Mercosul também, que é muito forte nos alimentos que os europeus não são. Inclusive, no setor de carne, os europeus estão reduzindo a leucofontese, são com muita dificuldade. Também com enfermidades, o âmbito suíno, a peste suína africana é afetada muito no mercado europeu. A influenza aviária também já tomou o continente, também em carne de frango, e o Brasil tá preparado, nós não temos nada de enfermidades. Inclusive, Santa Catarina é o estado com os melhores status sanitários do mundo. Então, é um estado blindado para a enfermidade, não temos nenhum evento. Então, o Brasil, não só o Brasil, mas os países do Mercosul, são países muito fortes nisso. E aí os europeus têm as suas fortalezas também dentro dessas negociações. E também analisando o cenário geopolítico, como vocês viram aí os Estados Unidos, o governo Trump, por ser mais direto, tem adotado algumas estratégias não muito ortodoxas para chamar os países para fazer uma negociação um pouco melhor para o país e acaba ocasionando uma situação incômoda. Os europeus estão preocupados, a China está preocupada, todos os países estão preocupados com o que está acontecendo. E cada país tem usado a sua estratégia. Talvez o acordo do Mercosul e da União Europeia seja uma delas. Seja uma boa estratégia avançada. Agora é firmar, já tá na mão dos europeus, só falta eles firmarem o acordo. A minuta está pronta, a redação tá pronta, só falta firmar mesmo, mas claro, a Europa tem seus protocolos, tem que ter aprovação da assembleia em Bruxelas. Enfim, tem que seguir aí todos os ritos, mas assim, eu entendo que o quanto antes firmarem esse acordo, melhor para ambos, tá? É um ganha-ganha. Temos aqui uma situação clara.
[…]
Até uma coisa para vocês observarem também, tá acontecendo e vão acontecer muito mais coisas inesperadas. A própria China chamou a Coréia do Sul e o Japão para iniciar as negociações, um acordo entre esses países. Se você pegar o passado, esses três países conversando, é imaginável. Pensando ali na Primeira Guerra, na Segunda Guerra Mundial, enfim, tudo o que aconteceu, ainda existe um resquício de sentimento ruim dos chineses para o Japão por tudo que aconteceu. E aí os países sentarem pra dialogar é surreal. A própria Alemanha aumentando […] o orçamento para fins militares. Gente, depois que tudo aconteceu, a Alemanha seguindo dessa forma, é surreal, é impensável. Eu acho que os professores de história e de relações internacionais vão ter muita dificuldade de explicar isso claramente. […]
A gente queria saber sobre, pegando um histórico do Brasil, você vê uma diferença na política do governo atual e do governo anterior? Então, do governo Lula e Bolsonaro. Quais são as diferenças, como isso afetou o sistema, o setor para vocês, a cooperativa?
Bom, é uma boa pergunta, mas desde já eu comento que é uma resposta bem apartidária. Quem atua com relações institucionais, governamentais ou internacionais sempre precisa estar à parte de vieses políticos e partidários, enfim, ideologias suprapartidárias. Sim, há uma diferença muito grande, especialmente na agenda internacional, na agenda diplomática, que a gente viu nos quatro anos do governo anterior, aliás, uma falta de agenda internacional que acabou impactando também o avanço de algumas negociações. Por exemplo, até nas rupturas,. Não sei se vocês lembram, no começo do governo anterior teve os comentários com os chineses, também teve uma situação complicada sobre a esposa do Macron e que a ecologia era uma situação para a França. E a França também é um formador de opinião no mercado europeu pela força que ela tem na economia europeia. Então, isso tudo é desnecessário, eu acho que a agenda diplomática tem que seguir de uma forma muito, mas muito cuidadosa, cada palavra. Não sei se vocês já tiveram a oportunidade de conversar com um diplomata embaixador, mas eles costumam falar bem devagar, bem pausadamente para que nada seja tirado de contexto. Porque ele é a representação diplomática do Brasil em outros países e assim funciona e esse cuidado que tem que ter. Tipo, a gente não entrar em briga que não é nossa, a gente entrar em situações que não é nossa. O governo atual já tem um certo cuidado com isso. Então, aliás, fazendo ressalva em alguns desvios que ocorreram também, todo o governo comete esses desvios em fazer comentários […], mas eu vejo que o governo atual tem um certo cuidado de não entrar, se a invasão, a guerra na Ucrânia, é imoral, é ilegal, enfim. Sei que todo mundo sabe, acho que todo mundo tem essa opinião, mas o que a agenda diplomática tem que preservar é os interesses da população brasileira, do Brasil. Opiniões pessoais não interessam em nada. As pessoais servem como uma roda de amigos para um almoço em família. Eu acho que o que precisa ser pensado é o que é interessante pro Brasil, pra população brasileira, como chefe de estado, ou no meu caso preservar realmente os interesses da cooperativa, do setor, pensando sempre que atrás de qualquer ação, de qualquer fala, tem milhões de famílias que dependem disso. Tem milhões de pessoas que dependem do emprego, da renda, dos seus negócios familiares para poder ter uma vida digna. Então, a gente precisa ter muita cautela. Então, talvez essa seja a grande diferença. O que mais se destaca. É algo aí do direito internacional também, que é o resultado do curso de vocês. […]
A nossa última pergunta, você já falou um pouquinho sobre o governo, a parte da infraestrutura, mas a gente queria saber mais uns requisitos, o que o agro demanda do governo atual em relação à atuação internacional? Quais as necessidades? O agro, na verdade, é a empresa, a gente quer saber da Aurora. O que ela gostaria do governo, da representação internacional?
A gente tem conversado bastante, inclusive, hoje, o responsável não só do Itamaraty, não sei, o setor de produção de mercados e também o setor de contenciosos. O Itamaraty tem um ótimo trânsito com eles, mas também dentro da pasta de agricultura tem o secretário de relações internacionais da pasta, vocês podem pesquisar, é um grande amigo, de longa data, uma pessoa muito competente, e há dois temas que sempre estão em pauta das interações com o governo, seja em qualquer âmbito, uma é abertura de mercados, dois, a manutenção desses mercados. Porque, por vezes, você consegue abertura de mercado, mas você sofre em posicionar o seu produto, vender os seus produtos naquele mercado por questões, barreiras técnicas, enfim, situações que dificultam muito acessar aquele mercado. Ou barreiras tarifárias, por exemplo. Tem países como Índia, abrimos mercado para carne de aves, mas o imposto cobrado para a exportação para a Índia é quase 100%. Então, é inviável você atender o mercado com uma tributação tão alta como essa. São barreiras tarifárias e não tarifárias que acabam revestindo o protecionismo desse país. Então, é muito difícil. Então, a gente sempre pauta o governo federal nas iniciativas, nas interações com outros países que negociem, melhorem os acordos com esse país para que o produto brasileiro, que é de alta qualidade, possa acessar aquele mercado e atender as demandas dos consumidores. Então, é isso que a gente, por exemplo, um exemplo bem prático, eu estava na Nigéria, um mercado fechado para carne de aves no Brasil, e aí, em conversas lá com senadores nigerianos e secretários, ministros também, do Estado, é um mercado que o consumo per capita de carne de frango é muito baixo. Por quê? Mas assim, a gente está falando de uma população maior que a do Brasil. Então, é muito difícil. O Brasil consome 34, 35, 36 quilos de carne de frango anual, né, por pessoa. Nigéria é em torno de 3 ou 4 quilos por pessoa. Mas por que é tão baixo? Porque a carne de aves, que aqui no Brasil é um produto eclético, talvez de todos os brasileiros, independente se é classe média, classe média baixa, classe alta, enfim, é um produto eclético, a gente consegue atender uma ampla variedade de cortes, nas demandas brasileiras. Na Nigéria não, porque é um país extremamente protecionista. São duas empresas nigerianas que atendem o mercado, mas não conseguem atender. Elas atendem no máximo 30% do consumo interno. Estimulando também a entrada de produtos contrabandeados, passando a fronteira cega de outros países que também põem em risco a saúde da população. E muito por conta do protecionismo do governo nigeriano, que não aceita a abertura de mercado para o Brasil, em um país em que existe um lobby muito forte dessas duas empresas que produzem e ainda produzem aves em condições muito precárias […] O valor que se cobra para a carne de frango da Nigéria é inacessível para a maior parte da população, que vive abaixo da linha da pobreza. É muito complicado. E, para mim, é muito dolorido também. Você vendo que uma atitude, uma ação protecionista de um governo para preservar os interesses de dois empresários que não conseguem atender a demanda local, faz com que toda uma população que sofre com sérios problemas, acesso a alimentos e com impacto de desnutrição, enfim, nanismo, crianças com dificuldade de acesso a alimentos ricos em proteína, mas é uma situação muito difícil, sabe? Muito difícil. Espero que isso possa ser resolvido através da diplomacia. Que possam haver entendimentos e, enfim, o Brasil se tornar um parceiro, não comercialmente falando, mas também fazer com que alimentos de qualidade cheguem na mesa, maior quantidade de famílias possíveis. Então, isso é importante. Nós temos excedente, nós queremos exportar, nós queremos ajudar a nutrir o mundo, mas existem ainda barreiras muito severas que impedem isso a ser alcançado.
[…]
Excelente. Eu que agradeço, mais uma vez, agradeço a oportunidade de estar participando. […] E também é uma troca, uma troca de conhecimento também. Então a gente conversar, quanto mais a gente conversa, mais dialoga, mais a gente aprende.
Cooperativa Agrícola, Paraná – entrevista sem identificação
A entrevista abordou a atuação da empresa na exportação de soja e frango, com destaque para mercados como China e México. A soja representa 35% do faturamento anual e o frango, 20%. A cooperativa também importa milho do Paraguai e enfrenta desafios logísticos internos, como o acesso limitado a rodovias e ao Porto de Paranaguá. Quanto à política externa, observa-se uma demanda crescente por produtos brasileiros em função da busca de países por novos fornecedores. O entrevistado afirmou que mudanças de governo não afetam diretamente os negócios atuais, mas influenciam acordos futuros. Por fim, a cooperativa enxerga oportunidades de expansão em países como Índia, Vietnã e Nigéria.
Leia aqui entrevista Cooperativa Agrícola
A primeira pergunta é qual o principal produto da empresa, e quais são os principais produtos exportados e importados?
A nossa empresa fatura 5,3 bilhões de reais por ano. Desse faturamento, o principal produto é o complexo de soja, que representa aproximadamente 35%. Deste volume de soja, é muito dependente conforme os anos e a comercialização, não existe uma regra única, mas a gente busca exportar 35%, 40%, 45% do nosso volume de soja que já chegou a 70%, como anos de 30%. Nosso objetivo desse ano é ficar em torno de 40%, 45% de exportação do volume de soja. Após a soja, o segundo principal produto da companhia é cortes de frango congelado, onde representa 20% do nosso faturamento total. Desse volume de frango, aproximadamente 60%, 65% é exportado. Os demais produtos que nós temos na nossa linha – que é milho, trigo, insumos agrícolas –, esses são raramente exportados. Os principais produtos exportados seriam soja e cortes de frango.
Sobre importação, de quais países mais se importa? E se é majoritariamente milho ou também algum outro cereal?
A gente importa diretamente milho. Milho é [proveniente] do Paraguai, o único mercado que viabiliza o preço para trazer pro Brasil. E também é muito dependente do ano: o ano passado o volume de importação de milho foi bem significativo, ficou na cifra de 1,5 milhões de sacas de milho. Esse ano, em função do câmbio mais elevado e das condições comerciais, esse volume provavelmente fique em torno de 300 a 500 mil sacas de milho A relação importação e exportação está muito relacionada ao preço. Há momentos que é mais favorável, há momentos que são menos favoráveis. Isso depende do momento de compra, da oferta do mercado, da taxa de câmbio. Então, é uma infinidade de fatores, mas a importação direta nossa, basicamente, é milho.
A segunda pergunta é qual o percentual dessa produção que é destinada ao mercado externo? Então, quanto por cento de soja que é destinado ao mercado externo em relação à carne de frango também?
A soja é muito dependente do ano. 35 ou 45%. Esse ano a gente espera ir por volta de 40% de exportação, mas é um cenário que é muito difícil você traçar, porque tudo depende da demanda mundial: Se a China tem mais apetite a comprar, menos apetite a comprar, como vai ser a safra americana. Então, é muito difícil você planejar uma exportação porque ela é muito momentânea. Às vezes, são momentos que ela se torna favorável em função da oferta, da demanda, da procura, mas a gente sempre busca isso: buscar 40, 45% da exportação. Para a soja que esse ano a expectativa é de 40, 45%, mas depende da produção mundial e da demanda mundial sim e da oferta. E no frango a gente espera de 60, 65% de exportação.
Gostaria de perguntar quais são os principais gargalos logísticos ou as dificuldades enfrentadas nesses processos de importar e exportar.
Quando a gente fala de exportação, o Sudoeste do Paraná tem muita dificuldade de acessar linhas férreas e rodovias de maior fluxo e maior porte a gente também tem certas dificuldades. Nós temos uma topografia bastante ondulada, rodovias menores, sem acostamento, então nós temos dificuldade de chegar até os principais canais logísticos da região, que o nosso principal seria a BR-277 que a gente fica a aproximadamente 150 quilômetros dessa rodovia, dessa principal rodovia que é um canal logístico do estado. Então a gente tem dificuldades de porte de caminhão para chegar até essa rodovia e, após chegar nessa rodovia, obviamente ela concentra toda a logística do Paraná e também congestiona, tendo dificuldade de chegar até o porto de Paranaguá, então um grande desafio a nossas rodovias e fluxo interno. Com relação ao porto de Paranaguá, que é o principal porto que a gente utiliza tanto para frango quanto para soja, ele vem evoluindo bastante nos últimos anos, principalmente na parte de contêineres, na parte frigorificada. Ele teve uma grande evolução após ser concedido a grupos chineses. Eles evoluíram bastante na questão logística e, na parte de grãos, ele precisa evoluir mais, ele está um pouco mais atrasado, mas teve uma grande evolução nos últimos três anos, então a gente acredita que novos investimentos virão e irá melhorar. Com relação à importação, a gente tem menos dificuldades […] toda a logística fica por conta dos nossos fornecedores. Não saberia dizer quais são os gargalos. Gargalos que aparentemente os nossos clientes têm é muita dificuldade nos trâmites legais na fronteira no Porto Seco [de Foz], Brasil e Paraguai, a demora da liberação da documentação.
A gente queria trazer um pouco mais para a atualidade. Temos discutido muito a mudança na política externa com o governo Trump e a alteração das tarifas de importação e exportação. A gente sabe que isso levanta muita apreensão por parte dos setores que estão ligados ao setor externo, e aí eu queria saber qual o impacto que isso pode ter na sua empresa.
No primeiro momento, até agora, nós não tivemos impactos negativos, porque há muita especulação, mas, na prática, poucas ações foram tomadas até o momento. Eu estive há 30 dias no México, fiquei durante 10 dias lá e o México é um dos países que o Trump mais mira as suas taxações. A empresa manda muita carne de frango ao México e os próprios empresários mexicanos estão em dúvida do que pode ser simplesmente falas do Trump ou realmente pode entrar em prática essas taxações. Obviamente eles estão bastante apreensivos, há na população um sentimento de revolta com relação ao governo Trump, então o mexicano está dando preferência para comprar o máximo possível de produtos de outras origens. Então, por isso, o frango brasileiro está muito demandado lá no México; por isso que a gente esteve lá. Então no primeiro momento o impacto para o Brasil está sendo eu diria mais para o cenário positivo, porque os Estados Unidos é um grande produtor de alimentos a nível mundial, produz muita carne, muito milho, muito trigo, muita soja. É um competidor muito forte nosso porque tem canais logísticos portuários muito bons. É muito eficiente no custo. Mas está gerando a princípio esse impacto positivo. Hoje de manhã nós estivemos em conversa em uma vídeo com nossos clientes nossos representantes da China. China também está apreensiva com relação às ações do Trump e está fornecendo e buscando abastecimento no Brasil nesse momento. Então também mandamos. A China é o principal mercado de carnes nosso. China primeiro, México segundo, Europa terceiro. Então está demandando muito produto brasileiro fazendo estoques de alimento buscando garantia. Então nesse primeiro momento tudo isso que o Trump falou e na prática não executou muito até agora está sendo positivo para o agro brasileiro. Qual vai ser o segundo impacto disso? Ninguém sabe. Nós ao mesmo tempo estamos felizes com a demanda mas preocupados com o que pode acontecer porque retaliações vão acontecer o próprio Brasil é um grande fornecedor de etanol para os Estados Unidos o etanol sai da produção de cana e de milho então pode afetar o agro do Brasil. Então acredito que não terão vitoriosos com isso. Primeiro momento o Brasil está sendo vitorioso no agro. Mas no segundo momento a gente vai ter impactos porque as barreiras tarifárias, elas passam em cascata a partir do momento que um país executa essa barreira tarifária e vai executando, ela vai escalonando e vai afetando outros produtos e outros mercados e acaba todo mundo perdendo com isso. O livre comércio sempre foi a melhor alternativa. Mas estamos apreensivos, em momentos está sendo positivo mas com certeza algum impacto negativo. virá
Em relação à política externa brasileira, sabemos que existem mudanças de governo para governo. Às vezes, existe um alinhamento maior com um país ou com outro, a depender do executivo. Como nos últimos anos, a gente teve uma mudança política do Lula para o Bolsonaro, queríamos saber em termos de aproximação com outros países ou de acordos comerciais ou de quaisquer outras medidas que possam ter produzido impacto para a sua empresa.
Com relação às mudanças, a mídia fala muito que Bolsonaro tinha um alinhamento com alguns países, Lula tem alinhamento com outros países. Mas, na prática, nós não nos relacionamos com países, nós nos relacionamos com clientes. Lá na ponta, e quando existe uma relação próxima com esse cliente, quando existe uma relação de contratos com esse cliente, muitas vezes pode entrar ou sair presidente e isso não é afetado. Então pode afetar futuros acordos comerciais, situações de empresas que buscam novas exportações ou habilitações. Mas no nosso caso a gente não sente muito isso, porque a gente já tem um relacionamento muito próximo com os clientes. Os clientes nos visitam, nós visitamos os clientes, já tem uma relação de longa data. Obviamente quando falam em acordos comerciais o governo Lula é mais sensível a causas ambientais, a trazer o Brasil com uma responsabilidade ambiental muito grande e aceitando certas exigências, principalmente da Europa, com relação ao âmbito ambiental, com relação à moratória da soja, com relação ao bem-estar animal. Tudo isso prejudica a nossa competitividade, então a gente sente o governo Lula mais adepto a atender as demandas do setor ambiental e o setor de bem-estar animal que acaba tirando a nossa produtividade. E a gente sente o governo Bolsonaro menos sensível a isso, não que não esteja preocupado, mas o governo Bolsonaro muito preocupado em manter a competitividade do agro do Brasil não aceitando qualquer medida que venha a tirar a nossa competitividade.
Quais são as expectativas para a inserção internacional da empresa nos próximos anos? Existe uma expectativa de mudar os compradores ou fornecedores do volume exportado ou existe alguma estratégia para ampliar para novos mercados as exportações?
Quando a gente fala de soja, basicamente não muda muito nos últimos 10 anos os principais compradores a nível mundial, 10, 15 anos. A soja ela continua sendo muito demandada pela China, sempre foi um grande consumidor. A Europa, um grande consumidor. A gente não vê muita alteração na movimentação da questão do complexo soja. Com relação ao complexo frango, a gente vê enormes possibilidades. Enxergamos alguns países que estão crescendo a população de forma exponencial. Índia, já muito conhecida. Então acho que o Brasil precisa traçar acordos comerciais melhores com a Índia, apesar do consumo de frango ser muito baixo no país, consome-se apenas 3 quilos per capita a ano, mas é uma grande população, então há uma grande possibilidade do Brasil ingressar. Porém, nós hoje somos taxados em 100% de impostos na entrada na Índia, então precisa resolver esse acordo comercial porque nós ficamos totalmente fora de mercado e outros países a nível mundial que estão com a população crescente, como é o caso da Nigéria, que é uma grande população Paquistão, Vietnã, Indonésia, Malásia são países que estão com a população bastante crescente e nós não temos acordos comerciais, acordos sanitários muito bem informados. Então a África está crescendo, a expectativa de vida das pessoas. Com expectativa de vida e aumento de renda [existe] aumento de consumo, [com aumento do consumo, há] aumento de renda, geralmente [a partir disso, há aumento] de consumo de proteína. E o frango é a proteína mais barata existente. Então acredito que o Brasil deve se aproximar de alguns novos países, de alguns novos players e esquecer um pouquinho de tentar só atender a Europa, só atender até a China. Eu acho que tem outros países importantes que a gente pode atender e talvez não está sendo dada a atenção.
Como a empresa enxerga hoje as exigências e os requisitos internacionais para os seus produtos e como se adapta a essas questões?
Primeiro segue-se as legislações, isso é indiscutível. Enquanto existe uma lei devemos segui-la, podemos questioná-la, podemos buscar alterações, podemos buscar modificações, mas enquanto existe a lei a gente precisa seguir. O Brasil historicamente aceita muito fácil qualquer exigência comercial de outros países, muitas vezes até de forma desordenada, muitas vezes o próprio país não segue 100% aquela regra ou aquela legislação, e nós aqui implementamos uma regra que o próprio país importador não aplica na sua totalidade. Então acho que o Brasil tem que discutir melhor os acordos comerciais, discutir melhor as cláusulas, as pequenas cláusulas que envolvem a parte sanitária, que envolvem a parte de bem-estar animal. Acho que tem falhas nisso na discussão do Brasil, por isso que o Brasil precisa chamar mais a iniciativa privada quando for firmar acordos comerciais, não somente o Estado, mas sim ter o embasamento da iniciativa privada. Internamente, o Brasil tem muitas situações ainda que travam. O Brasil tem uma vocação para produção de alimentos e para exportação, porém, alguns órgãos e entidades do Brasil não enxergam essa vocação e acabam nos travando. Então há pequenos núcleos em algumas entidades do Brasil, do Ministério da Agricultura e algumas entidades que acabam burocratizando o Brasil. O Brasil é um país muito burocrático para exportar hoje. Não preciso usar esse termo, o termo é até um pouco chulo que eu vou usar, mas chega a ser ridículo, hoje o Brasil ainda, o médico veterinário ter que assinar um documento no Brasil de forma física. Onde hoje tudo é digital, onde a tecnologia a inteligência artificial está toda a nosso favor, a gente ainda tem assinaturas que estão ainda dos anos 70 sendo válidas. O Brasil tem algumas coisas que elas são burocráticas, cartorárias, situações que não precisam mais existir, acho que a gente precisa ser mais ágil nisso, nesse trâmite interno, para facilitar a exportação das coisas das empresas a gente acaba criando muito rigor aqui mas é isso, discutir melhor os acordos comerciais, discutir as exigências que os países colocam porque muitas vezes essas exigências na entrelinha para tirar a nossa competitividade.
Corretora de exportação, Santa Catarina – empresário individual
O empresário atende grupos europeus e asiáticos que desejam comprar carne e produtos agrícolas de países do Cone Sul, intermediando os negócios. Explicou na entrevista os impactos das crises sanitárias, ambientais e militares sobre os processos de importação e exportação e a importância de diversificar parcerias comerciais internacionais. Afirmou que no primeiro semestre de 2025 a guerra tarifária norte-americana beneficiou seu setor.
Leia aqui entrevista Corretora de Exportação
[…] Queria começar entendendo mais sua trajetória da empresa, sua biografia e como é essa empresa, como entrou no negócio.
Na verdade, é uma empresa não exportadora […]. Eu trabalho para empresas do comércio exterior. Eu trabalhava no Frigorífico Chapecó na área de vendas externas. E eu acho que não é da idade de vocês isso. E eu cuidava de mercado russo e da Europa na época. E, na época, um dos nossos maiores clientes me convidou para mudar de lado. Em vez de eu ser vendedor para o mercado externo, eu passei a ser comprador para a maior empresa de abatedouros da Europa. E eu gerenciava os escritórios dele na América do Sul. Sempre visando a importação de carne bovina e suína, na época, em direção à Europa. Carne bovina em direção à Europa, carne suína em direção à Rússia. O Brasil não pode ir para a Europa. Essa empresa veio a fechar depois de um tempo e eu passei a trabalhar para uma empresa importadora de carne, eu represento eles na América do Sul, onde eu faço a compra deles de carne bovina na América do Sul. E também eu faço exportação de boi vivo para a Turquia. Eu que coordeno a exportação de boi vivo para uma empresa da Turquia. Então é basicamente isso. Então estou no mercado e já faz bom tempinho.
Quando você fala América do Sul, quais países especificamente?
Eu compro… Eu sou comprador do Brasil, Uruguai, Argentina, Paraguai. Chile é muito pouquinho, não vale a pena comentar.
E a gente queria entender também um pouco mais das dificuldades logísticas por trás da sua operação. Porque, como você comentou anteriormente, era feito ali o processo de exportar e atualmente você compra os produtos daqui da América do Sul. E aí queria entender mais do seu dia a dia, do que você enfrenta, se você tem algum problema, por exemplo, com legislação dos diferentes tipos de países. Como é essa sua operação na prática?
Quando vocês forem trabalhar no comércio exterior, vocês vão ter que ter a primeira consciência que vocês vão ter várias barreiras. A principal barreira que tem é isso. Para mim não é mais uma barreira, mas vocês vão enfrentar é a forma de pensar. Eu trabalho, para vocês terem uma ideia, com o povo europeu, alemão e eu trabalho com o povo turco. Já trabalhei com a Rússia também. Então as culturas entre países interferem e causam vários ‘problemas’, vamos dizer assim. A maneira de agir, principalmente quando você fala em América do Sul, vamos falar Brasil, vamos concentrar onde vocês estão, Brasil. A forma cultural do Brasil é diferente da forma cultural de quando você trata a Alemanha ou você trata a Turquia. Estou dizendo a minha realidade hoje. Então essa é uma barreira que vocês vão encontrar. Vocês sempre vão tentar… Vocês sempre vão ter que se colocar na posição deles e entender o que é o pensamento deles. Muitas coisas que para um turco é ofensivo, para o brasileiro não é. Muitas coisas que para um brasileiro pode vir a ser ofensivo, para um turco não é. Então essa é uma barreira que muitas pessoas pecam não se colocando e não entendendo com quem estão lidando. Fora isso, você tem várias barreiras, barreiras logísticas, barreiras de comércio mundial, barreira de dólar, barreira de mudança de governo brasileiro, governos. Vou te dar um exemplo, no caso de boi da Turquia, que altera o tempo inteiro legislações e formas de atuar. Brasil, falando agora em carne, o continente europeu, a comunidade europeia, vai colocar barreiras em cima do Brasil que vão começar a vigorar dia 1º de janeiro do ano que vem e que pode alterar muito o nosso comércio. O Brasil pode até perder o posto de exportação para a Europa de carne. Então, sempre são barreiras que todo ano é uma novidade, é muito ágil o negócio. Muda governo, muda dólar, mudam várias situações, tudo muda o tempo inteiro. Então, muitas vezes, se você vai dormir com uma legislação, você acorda com outra. Então, assim, é desafiador, mas é um desafiador bom, é legal. […] Se não tem problema e não é difícil, todo mundo faz, tá? Então, se vocês estão estudando, se vocês estão se profissionalizando, se vocês vão buscar um dia trabalhar com isso, vocês vão entender que quem quer entrar pra brincar não fica. E tu vai ter que se especializar, tu vai ter que entender, e vocês vão aprender que, principalmente, quando você mexe no comércio exterior, muitos contratos são feitos de boca. Eu, com isso aqui, numa ligação, tenho mais validade do que um papel. Então, eu falo para muita gente no Brasil que, quando eu trato com o comércio de carne para a Europa, 90% dos nossos contratos são fechados de boca até vir um papel. E o papel é um e-mail. O papel é contestável. Então vocês vão ter que aprender que o que vocês falam no telefone vocês vão cumprir. Então assim, a palavra é uma coisa que você tem que medir muito o que você vai falar, o que você vai acertar. Se você falar um negócio fechado ou alguma coisa, a tua palavra tem valor. Quem entra e brinca com isso não se coloca no mercado depois. Ele sai do mercado logo.
Exato, tem que ter credibilidade.
Credibilidade da tua palavra é tudo, então não fale coisas sem pensar e não faça um negócio sem ter certeza que você vai cumprir. Dos dois lados. Eu trabalhei dos dois lados, você tem que estar muito certo no que você está falando.
[…] Dentro dessas dificuldades que você mencionou, ao longo da sua trajetória, você consegue elencar, por exemplo, qual foi uma das principais dificuldades que você já enfrentou tratando com diferentes países, diferentes culturas.
Tem inúmeros. Quando você vai trabalhar, por exemplo, com carne. Anterior a vocês, estourou uma crise no Brasil de carne fraca, de problema de credibilidade das instituições do Brasil no fornecimento de carne. Para o mercado. Estourou um suposto caso de febre aftosa. Para o mercado. Estava numa feira, uma vez estourou a febre aftosa, pára tudo, pára tudo mesmo. Ah, até o negócio que é tomar a credibilidade. Então, assim, são inúmeras barreiras, assim, que tu vai passar, que tu vai ver em cada segmento. Logisticamente falando, às vezes o mundo hoje tem integrado… Quando vocês viram que bateu lá um navio, ficou encalhado lá num canal, isso aí dá um efeito rebote para todo mundo que pára tudo, tá? Vai começar a chegar navio atrasado aqui, navio chegando atrasado ali, não faz a rotatividade, não tem como descarregar container, tu não tem como carregar teus contêineres, tu tá mexendo com carga perecível, no meu caso, que tem prazo de validade curta, cada semana é uma semana, uma greve, uma greve simples de porto, te atravanca tudo, uma greve de fiscal veterinário. Então, assim, são inúmeras. Isso é o que eu te disse. Você vai ter que aprender a lidar, inclusive, com as suas emoções. Você não pode ser desesperado. Você tem que ter calma e resolver. Um exemplo que vocês passaram na COVID, foi um Deus nos acuda para todo mundo. Nós tivemos quatro contêineres que nunca chegaram ao destino. Com carne resfriada. Os contêineres nunca chegaram. Os contêineres, depois de meio ano, foram achados no meio do caminho. Só que cada contêiner tinha 500 mil dólares dentro. É claro que existem seguros, existem proteções que você toma, mas você tem que cumprir muitas vezes contratos. Então, às vezes, vamos dizer assim, a carne é indenizada, mas totais como a carne indo para uma rede de supermercado, que para cumprir uma promoção de alguma coisa… Uma promoção, vamos dar um exemplo, uma promoção de Natal. Você tem uma data para chegar com essa mercadoria porque eles têm que fazer a promoção, eles botaram num panfleto, eles divulgaram ao povo. Daí dá uma greve no Brasil de fiscal sanitário. Teu container não embarca. Daí não embarca de novo. Como é que você faz? Então isso é o dia a dia da profissão. Mas como toda profissão, é desafiador, mas é interessante.
Em relação à quantidade de carne, se você teria uma média de quanto você exporta por ano, e sobre os países que você disse que compra as carnes, aqui no caso o Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, que fazem parte do Mercosul. Se isso acaba influenciando de alguma forma.
Não, porque no meu caso eu compro carne bovina de alta qualidade para a Europa. Então, quando você fala em carne bovina de alta qualidade, você fala sempre que quem primeiro dita o preço é a Argentina. É cultural do mercado europeu. Então, quem dita o preço é a Argentina. Daí tu sempre faz uma média ponderada de Uruguai, depois Brasil e Paraguai. Então, assim, o que acontece no Mercosul não interfere. Quantidade, vamos lá. Baixa de 15 contêineres. A nossa empresa faz 200 toneladas de carne por mês para a Europa, mas a carne que eu estou te falando é filé mignon, contra filé e alcatra. Então é o topo do consumo da carne. Quando eu faço exportação de boi vivo, agora nós estamos parados por uma questão comercial que a gente não quer entrar nas licitações. A empresa com quem eu trabalho em exportação de boi vivo é a maior compradora de bois da Turquia. Nós já chegamos a fazer num ano 200 mil bois. Eu mandei o link, ainda falei da exportação de bois que saiu agora, foi uma exportação de 20 mil bois. A nossa empresa já fechou mesmo um navio com 26 mil bois dentro. Então é uma exportação, volume financeiro, a logística, vamos dizer mais, é uma exportação dessa de 20 mil bois, o que você coloca de caminhão que está envolvido por trás disso, é uma operação de guerra. […] É uma logística para dar certo que é complicado. Mas até hoje está dando.”
[…] Nas negociações Mercosul e União Europeia, você acha que isso poderia ser favorável aos seus negócios ou é indiferente também?
O Brasil, quando você vai falar em mercado exterior da Europa, o Brasil é muito sacrificado com referência à Amazônia. Muita coisa falsa é dita, muita coisa errada é falada. E com isso, muitas restrições vêm de uma maneira errônea, por falta de conhecimento… Deixa eu medir as palavras agora que eu vou falar, é inclusive por má fé. Uma má fé no sentido que, se vocês forem analisar o Brasil, o Brasil é um país avantajado no agronegócio. Nós temos tudo abundante, nós vamos… hoje nós já alimentamos praticamente um quarto da população do mundo. E nós vamos, níveis que tu tá indo, Brasil daqui 10, 15 anos vai alimentar um terço da população do mundo. E ninguém quer bater no segundo colocado. Tu não vê alguém dizer ‘ah, eu quero um dia ganhar do segundo colocado’. Todo mundo quer um dia ganhar do primeiro. Todo mundo quer ser o primeiro. Então, o Brasil, ele é muito atingido, diariamente, porque todo mundo tem que atacar o Brasil. Por isso que eu digo um pouco de, às vezes, má fé. Eles usam de barreiras de anúncios de jornal, anúncios falados que não são verdade. Então assim, o Brasil, se tu pegar a dimensão do Brasil, tu coloca… Vamos lá. Usar um exemplo para vocês. Eu tenho um problema que quando eu vou embarcar um contêiner de carne do Brasil para a Europa, é falado em Amazônia. Qual a distância de uma carne do Rio Grande do Sul da Amazônia? Para eles é Brasil. É uma vala comum. ‘Ah, é carne do Brasil’. Então muitas vezes você está com dimensões gigantes no Brasil, sendo falado por países que… Eles liberam uma carne do sul e norte da Alemanha, mas não liberam do sul ou norte do Brasil. Então a gente é sempre bombardeado por isso. Existem listas negras no caso da carne do Brasil que a gente tem que cumprir. Então pega lá um frigorífico que eu tenho […]. Existe uma lista de plantas que não podem embarcar. Muitas vezes essas plantas estão localizadas a mil quilômetros da Amazônia, porque eles dizem que está desmatando a Amazônia, ou dizem que está vindo gado de lá. É irracional, mas é usado contra nós. E sempre para combater isso é muito difícil, porque é onde eu digo que às vezes existe um pouco de má fé, porque é o interesse da comunidade europeia, interesse de vários países de usar isso contra nós como uma forma de barreira. Você sabe que é uma questão de usar… Vamos lá, vamos usar outro país que eu trabalho, Turquia. Eu faço exportação de boi para Turquia. Por que a gente não manda carne para Turquia? Porque eles sabem que se um dia a gente começar a mandar carne abatida no Brasil para Turquia, o Brasil quebra os frigoríficos da Turquia. Nosso custo é infinitamente inferior ao deles. Então eles usam uma questão religiosa, alegando que a carne do Brasil não vai ser abatida pelos princípios religiosos deles para permitir só a exportação de um boi vivo. Permitindo a exportação de um boi vivo, tu tá mexendo com logística de desembarque, tu tá mexendo com fazendas criadoras, que o boi vai ainda pra recria, pra engorda, tu mexe com toda a central de logísticas, de abatedouro e frigorífico deles. Então, é o que eu digo, sempre vocês vão enfrentar barreiras contra o Brasil porque ninguém quer que o Brasil fique livre. A gente livre no sentido que eu quero dizer, a gente com liberdade de atuar, a gente quebra metade do mundo no meio agrícola. É por isso que a gente é líder em produção e exportação de gado, a gente é líder de exportação de frango, a gente é líder em exportação de soja, a gente… Que ninguém tem as dimensões com a capacidade produtiva que o Brasil tem. Então todo mundo quer nos bater. Isso vocês vão enfrentar no mercado a vida inteira. Por isso que toda vez que sai um noticiário, sempre vai ter uma repercussão negativa contra a gente, muitas vezes sendo usada de má fé. […] Eu digo que o dinheiro manda e é tudo um jogo financeiro e tudo um teatro. Você vê jogadas e quando você começa a ficar mais preso no mercado, você já sabe até quando vai ter o jogo. Você já sabe quando vão vir as proibições ridículas, barreiras impostas para averiguação, que você sabe que é só para frear para fazer o preço cair. Quando começa uma escalada de preço, existem as barreiras.
[…] A gente queria também entender um pouco da tua visão em relação à política externa do Brasil, tanto para fora quanto políticas que os últimos governos tomaram, então o governo Lula agora, o governo Bolsonaro e anterior o Temer. Assim, a gente queria entender se, na tua visão, essas transições de governo impactam o teu trabalho diretamente, se as políticas que esses governos vão tomar vão afetar ali no preço da carne, nas exportações […]
É, tem que pensar quando for pensar em troca de governo. Eu vou te dar um panorama um pouquinho melhor que você vai entender. E também não é partidário, isso está aí, isso acontece. A gente sabe que entrando o governo, sai o governo, existem políticas externas e existe confiança de mercado. Isso impacta diretamente no dólar, isso impacta diretamente na nossa moeda. Então é claro que uma mudança de governo, uma mudança de postura econômica, de endividamento, de credibilidade do país, impacta primeiramente e diretamente no dólar. Impactando diretamente no dólar, impacta em volume financeiro. Quanto mais o dólar for… o real for desvalorizado, maior chance de competir no mercado internacional a gente tem. Então, sim, muda. Então, vamos lá. O dólar escalou aí nos últimos anos. Vocês estão acompanhando o que está acontecendo com o dólar. Isso, de certa forma, traz vantagens competitivas. Porque a nossa mercadoria passa a ficar um pouco mais barata. Existem políticas de preferência por blocos econômicos mudando o governo, acordos com blocos. […] Então, assim, para uma empresa em geral, dependendo do bloco que ela quer atuar, onde a mercadoria dela é mais avaliada, muda sim. Quando muda o governo, muda o sistema sanitário brasileiro, muda os órgãos de chefia. Mudando os órgãos de chefia, mudam políticas. […] O Brasil foi liberado a exportar matrizes genéticas para a Turquia em gado. Foi comemorado em todo local que agora o Brasil pode mandar fêmea, fêmea grávida, prenha, pra Turquia, em animais em pé. O agro noticiando como a grande abertura de mercado. Por trás existe um protocolo sanitário. O protocolo sanitário que o Brasil assinou não dá para cumprir. Ou seja, nenhuma empresa vai poder exportar porque não tem como cumprir o protocolo sanitário. Daí eu te pergunto, por que assinaram isso? Lá dentro tem um exame que você tem que fazer. O Brasil liberou assinar um protocolo que tem que fazer um teste de brucelose. Esse teste de brucelose, ele vai dar positivo em todos os animais porque existe um protocolo brasileiro de vacinação com uma vacina que dá o reagente para o protocolo. Então é inoperante. Então daí eu te pergunto, para que assina? Ah, porque os turcos obrigaram. Então para que que assina? Ou assina para fazer essa safadeza no protocolo e não cumprir, fazer traquinagem no Brasil, descredenciando o Brasil, caso for pego alguém fazendo alguma coisa ilegítima, uma coisa… Como é que eu vou usar o termo? Uma coisa irregular? Ou fizeram para não cumprir, fizeram para publicar. Assinaram só por assinar, porque publica e dizendo ‘mais um mercado foi aberto para o Brasil’. Quem está por trás está olhando, lendo, dizendo, tá isso aqui não dá para cumprir, isso aqui é palhaçada, desculpa o termo que eu estou usando isso aqui é… Notícia falsa. Daí fica lá nós que estamos no meio tentando fazer cumprir o protocolo pedindo a troca. Então, assim… Dependendo do governo que entra, existe o show para a multidão. Existe o show para a TV. E tem gente que… Prefere dar declarações mais duras, enfrentar e encarar o problema de frente. Então assim, sim, a tua pergunta é, mudanças de governo impactam, impactam em promover políticas internas de consumo, que altera a exportação, altera a política de dólar, políticas econômicas que alteram o poder de exportação nosso, alteram políticas de preferência por blocos econômicos que alteram situações do jogo mundial de comércio e também formas de atuar em assinatura de acordos. É para TV, muitos dos acordos. […] Vocês escutaram há pouco tempo atrás que houve uma viagem para o Japão para liberar a exportação de carne para o Japão. Conseguiram o acordo? O acordo já existia. Já todo o Brasil exporta para lá, então é show para TV. Quem está no mercado sabe que muitas das coisas que são noticiadas é show para TV, é show para quem não está por dentro, ‘ah, estão melhorando a parte econômica do Brasil, estão abrindo negócios’. Já estava aberto. Só para a população ver, aplaudir e fazer o show. Então nem sempre o que vocês veem na mídia são verdades. Muita coisa é armada. Então altera, altera sim, e você tem que já estar preparado. Quem está no mercado há um pouco mais de tempo, já sabe o que vai acontecer. Nós vínhamos numa dificuldade de exportar carne do Brasil para a Europa. No dia que o Lula ganhou a eleição […] Meu filho, na época com 16 anos, olhou para mim e disse ‘pai, o que vai ser para ti?’. Eu digo, possivelmente ele vai levar o Brasil em endividamento, ele vai montar políticas populistas, no primeiro ano isso vai ser muito ruim, no segundo ano vai começar o endividamento, o dólar vai disparar, o dólar disparando vai dar uma crise interna, o brasileiro vai parar de comer carne, vai ter que exportar, vai melhorar para o teu pai. Dito e feito. Voltei a exportar a níveis anteriores. Tu já sabe o que vai acontecer, tu já sabe que uma política é o que que vai causar lá na frente. Então, assim, é bom? Pra mim, algumas besteiras que são feitas pelo governo favorecem o meu trabalho. Eu, como brasileiro, eu gosto? A minha crença pessoal ao que eu acredito, muitas vezes é diferente do que acontece no meu mercado. A Argentina, no país vizinho, houve uma troca de governo, houve uma troca de postura de exportação. O governo anterior colocava proteções e barreiras de exportação, trazia desgaste. O governo novo abriu, traz liberdade de atuação. Então, sempre uma troca de governo, uma troca principalmente de formas de pensar, partidos políticos ou de ideologias políticas, sim, afetam e afetam muito o mercado. Isso aí vocês vão ter que estar cientes para frente. O que é bom, o que é ruim, é relativo. É o que eu te falei. Eu te botei as duas posturas, o que é bom e o que é ruim. Tu viu que para mim pode ser ruim num lado, mas melhorou do outro. Então, o ruim ou o bom cabe para que lado tu está vendo, para que aspecto tu está vendo. Então isso muda bastante. Então daí tu vai lá. Eles vão ver o agro. O agro hoje no mundo está tendo uma pressão. O Brasil vai passar por uma pressão inflacionária. Soja, milho… Isso desencadeia o preço da cadeia de alimentos. Então qualquer mudança desses jogos políticos interfere em todos os lugares. Por isso que vocês também olham tanto interesses do mundo no Brasil. Principalmente na América do Sul, Brasil é o maior, sempre vai ser onde tem mais olhos. Por isso que tu vê a China direto aqui, por isso que tu vê os Estados Unidos tentando mandar aqui, tu vê a Europa… Porque a gente muda o jogo do alimento no mundo. Então muda, muda muito, o que é melhor ou pior é dependendo do ponto de vista que tu vai ver.
Nesse sentido, quais são suas expectativas, assim, para os próximos anos, para o cenário atual também?
Falando em exportação, falando no meu segmento, eu acho que nós vamos ter… Hoje existe, quando eu falo, onde eu trabalho, eu falo principalmente em carne bovina, tá? Alimentos. Existe um déficit de alimentos no mundo, existe uma falta, uma quebra da cadeia de produção de bovinos do mundo, isso eu estou te falando é uma quebra mundial. Impactos de políticas econômicas, impactos ecológicos afetaram esse poder de produção mundial. Então, nós vamos ter uma demanda forte ainda pela frente. O mundo vai vir comprar do Brasil e da América do Sul fortemente nos próximos anos. Então, o Brasil vai ter que saber aproveitar esse momento. […] A própria parte ecológica de seca no mundo, o abastecimento, o que está acontecendo na Europa, causou uma falta de produção de alimentos, e essa falta de produção de alimentos, principalmente na parte de carne, na parte de proteína… Vai trazer bons, eu acho que os próximos dois anos aí são anos promissores, são anos muito bons para nós. Não sei se era isso que tu queria saber.
[…] Eu tenho uma pergunta em relação aos organismos internacionais, por exemplo, a OMC. Se você tem algum nível de atuação com esses tipos de organizações internacionais, por exemplo, se você já teve que passar em algum painel da OMC ou se em algum momento isso já atravessou o seu trabalho.
Isso é um grande jogo para… Desculpa o termo que eu vou usar, isso é uma grande palhaçada mundial. Isso aí é um jogo político usado por governos para fazer o jogo que precisa ser feito e muitas vezes um jogo não legítimo. Usando de organismos internacionais para forçar países a adotarem políticas que eles querem. Tenho para mim que isso aí deveria deixar de existir, essas porcaria toda, desculpe a sinceridade que eu tenho, só estão aí para atrapalhar o comércio, só estão aí para colocar coisas que muitas vezes são impraticáveis e, como eu digo… Dependendo quem está no poder, quem está mandando, eles estão lá em cima, eles não estão preocupados no comércio, eles não estão preocupados em defesa de alimento, não estão preocupados em nada. Eles estão fazendo a politicagem pura e simples a mando de alguém para beneficiar alguém. Isso aí com o tempo vocês vão ver. Tenho amigos nesses órgãos, tenho amigos em todos os aspectos. Nos damos bem, mas todos sabem a minha opinião. A metade podia deixar de existir que ia melhorar para o mundo. Eu acho que o melhor acordo [entre A e B, é feito entre A e B]. Não tem que ter um órgão em algum lugar do mundo que não está nem por dentro do que está sendo falado para botar essa regra. Ou para criar problemas onde não existe, ou para criar situações onde não existe. E com isso pressionam países a tomarem políticas que nem sempre são… Quando eu falo isso eu não falo só de Brasil, eu falo países do mundo a tomarem políticas de restrição de tudo que não são corretas no meu ponto de vista. O Brasil, por esses órgãos internacionais, muitas vezes são exigidos certos procedimentos do Brasil, principalmente de ordem sanitária, que não são exigidos de metade do mundo. Nós temos um ápice de produção, um ápice de controle alimentar que o mundo inteiro não tem. E eles ficam criticando o Brasil e não olham para o seu próprio país. Eles não olham para a sua casa porque não são pagos para olhar para a sua casa. Eu, tendo oportunidade de ter trabalhado como exportação, trabalhei para uma empresa europeia forte em produção. Já visitei frigoríficos do mundo inteiro. Quando você vê o que acontece, daí você vai entender o que estou falando, porque padrões sanitários exigidos de exportadores do Brasil não são exigidos em metade dos frigoríficos da Europa. Então, para que servem esses órgãos que estão botando diretrizes no mundo de controles, que não é igual para todo mundo? Então, vamos fazer a coisa certa para todo mundo? Vamos, mas politicagem, não. Eu não gosto. Eu acho que eu sou diretamente, principalmente na exportação de bois, eu sou diretamente afetado por políticas de governo. E a pior coisa que você tem é quando algum governo ou algum organismo se mete no meio para tentar determinar o que você tem que fazer. Eles não entendem, eles não sabem, não é a realidade deles e, como eu te disse, vão lá e assinam um protocolo que não serve para nada. Então, eu sou totalmente contra esses organismos internacionais, que para mim é somente uma cadeia de ganhar dinheiro e uma cadeia de fazer politicagem mundial, no meu ponto de vista. Posso estar errado, se alguém falar que eu estou errado, tudo bem, mas é meu ponto de vista.
[…] Queria saber a sua percepção de como estão sendo essas tarifas [colocadas pelo governo Trump].
Se o Brasil é esperto, ele surfa a melhor onda que ele vai ter. Vocês estão em curso de Relações Internacionais. […] As tarifas do Trump estão trazendo para o Brasil contratos que o Brasil nunca teve. Porque nessas brigas, os grandes não fecham contrato entre eles, e muitas vezes, porque não é visto, passa despercebido e surfando. Então, assim, eu acho que do ponto de vista do Trump, ele pensando nos Estados Unidos, ele está correto, ele está pensando no país dele. Pensando nos outros países, tentando se defender, eles estão certos, estão pensando no país deles. E esperto é quem consegue surfar onda quando os outros brigam. Então, assim, você vê, contratos atípicos sendo fechados no Brasil, de exportação de grãos, principalmente para a China e alguns países, que o Brasil não teria se a briga não estivesse ocorrendo. Então, assim, se tu pensar do ponto de vista ‘vamos olhar para a gente’, tomara que briguem. Quanto mais brigarem, melhor para nós. É menos contrato entre Estados Unidos e Europa, é menos contrato entre todo mundo. A nível mundial eu não sei o que isso pode causar, eu acho que existe um provérbio que diz que quando os grandes brigam fica em cima do muro olhando quem é que vai sair menos arranhado. Não te mete em briga de cachorro grande, vai ficar olhando. E como eu te disse, contratos atípicos estão sendo fechados com o Brasil, aproveitando a situação. Vocês verem o Trump, Trump briga com a China. Quem é o país que está sendo beneficiado? Índia. A metade da Apple foi transferida já para a Índia para suprir os Estados Unidos. Então é o que eu te disse. Dependendo do ponto de vista do país que tu está, é bom e ruim. A gente tem que aprender… A briga é deles, deixa eles se matarem e nós vamos tentar ver o que a gente passa despercebido e faz lucro em cima. No meu ponto de vista é bem simples isso. Vamos lá. Trump brigou com a Europa. Quantos contêineres de carne nessa briga não estão sendo comprados dos Estados Unidos? De onde é que eles vão vir buscar suprimento? América do Sul. Onde eu trabalho é América do Sul, então tomara que briguem. Por mim essa briga podia ser um pouco mais duradoura, vamos dizer assim, tá? O acordo tá vindo muito rápido, mas devia ter mais seis meses de briga.
[…] é o momento da gente aproveitar, realmente.
O Brasil não pode entrar em briga de escolher bloco. Nós fizemos de todo mundo. A grande verdade é essa. A gente não pode ‘eu gosto mais daquele ou daquele’. A gente tem que estar aberto para todo mundo. ‘Não gosto quando é destinado mais a China, não gosto quando é destinado mais’, já trabalhei com a Rússia, na época a Rússia, ‘ah, a Rússia, a Rússia, a Rússia’, um belo dia a Rússia deixou de comprar. Então a gente tem que estar aberto a todo mundo, você sempre tem que estar com o foco aberto em todo mundo. Não existe preferência, existe estratégia de negócio. E o Brasil tem que saber usar estratégia de negócio. Qual é uma estratégia de negócio do Brasil? Nós temos que ser amigos de todo mundo em políticas comerciais. Eu não posso ter preferência. Eu tenho que atender a exigência, a demanda de cada país, e tenho que me adaptar a eles, fazer o que eles querem e não tomar partido. […] Eu trabalho com o povo islâmico na Turquia. Eu trabalho com o povo alemão que está brigando contra eles. Eu trabalho com exportação, às vezes, ajuda o que vai para Israel. Então, o que eu sou? Eu sou islâmico, eu sou católico, eu sou espírita, eu sou evangélico, eu não sou nada. Você tem que aprender a respeitar a parte de cada um e não te meter em questões religiosas, questões políticas internacionais, brigas. Você tem que pensar comercialmente. Você não se mete em briga, você não entra em discussões acaloradas para defender alguma ideia. Você tem que pensar que todos têm que ser teu amigo. Então, sobre o Trump, gostaria que ele brigasse mais. […] A briga dele só… para o meu nicho de mercado só, até agora, só beneficiou. […]
Grupo Dois Irmãos, Santo Antônio da Platina PR – https://grupo2irmaos.com.br/
A entrevista detalhou a produção de café no Brasil, o mercado comprador externo e as razões para a recente elevação do preço do produto no mercado interno. A empresa participou de programas de apoio à exportação, como o PEIEX (da ApexBrasil) e o Exporta Paraná (via FIEP), que foram fundamentais para sua capacitação e prospecção de mercados. Segundo o entrevistado, esses programas têm continuidade independentemente da troca de governo, e esses órgãos tem mantido um bom suporte institucional às exportações nos últimos 15 anos. O tarifaço foi bom inicialmente para o setor mas as consequências futuras da possível recessão nos EUA são ainda imprevisíveis.
Leia aqui entrevista Dois Irmãos
[…] Nós entrarmos em contato com empresas que exportam commodities para entender a questão da política externa brasileira na associação com a exportação desses produtos. […][Pedir] para você se apresentar, apresentar o grupo Dois Irmãos, assim, para a gente ir começando a entender como é essa operação de vocês em questão de exportação também.
Vamos lá, nós estamos localizados aqui no norte do estado Paraná, Santo Antônio da Platina. O Paraná já foi o maior produtor de café do Brasil. Antes de 1975, não sei se vocês chegaram a fazer um estudo nesse sentido. Hoje a produção do Paraná é pouquinha. Brasil está produzindo hoje 65 milhões de sacas e o Paraná está produzindo pouco mais de 900.000. Então perdeu muito com a geada, e depois de 1975 não recuperou porque o pessoal começou a ficar com medo do frio e foi subindo. Foi subindo para Minas, Espírito Santo, Rondônia, Bahia. Então nós estamos localizados no norte do Paraná. Nós temos uma indústria de café. É uma comercialização de café verde. A gente compra de produtores rurais da região, faz o beneficiamento, faz os blends e vende o café verde também. Somos uma empresa que também vende café verde. Mas a nossa expertise hoje está mais ligada ao café torrado e moído, com algumas marcas que nós temos no mercado; nós temos 14 marcas no mercado. E atende Sul de São Paulo, Paraná e Norte de Santa Catarina, esses três estados. Alguma coisa também a gente vende para as grandes redes fora desses três estados, mas basicamente é isso. Nós temos a indústria localizada aqui em Santa Antônio da Platina e dois centros de distribuição. Um em Itú, em São Paulo, e outro em Curitiba. O carro chefe nosso é o café Alvorado em Curitiba, mas a gente tem, fora o café Alvorado, a gente tem mais 13 marcas. Aí que vocês são estudantes, você sabe como que loucura isso, trabalhar com 13 marcas e um produto. Como é que fica a administração de marketing disso? Em razão disso, o café tem uma característica um pouco diferente dos demais produtos da cesta básica, por exemplo. Ele tem um bairrismo muito forte. O tomador de café é um cara que vai tomar o café que o pai tomava, o avô tomava, o bisavô tomava. Ele tem aquela marca de preferência, então se não houve um problema na marca, na qualidade do café, o consumidor brasileiro é propício a seguir isso. Tanto é que as grandes marcas hoje do mercado foram adquirindo marcas antigas e não tiraram as marcas do mercado, eles ficaram com uma marca. Porque, de repente, nós, por exemplo, temos marcas que a gente vende em uma região só, numa cidade só. Porque a população se acostumou com aquela marca. Então, nós temos uma indústria de café aqui, hoje ela é a maior indústria do sul do Brasil, em capacidade, a maior indústria do sul do Brasil. E a gente está aí enfrentando, gente brinca aqui, que a gente no varejo, a gente não mata um leão por dia, a gente mata dois leões por dia. Trabalhar com um produto da cesta básica e aonde é o varejo tem uma força muito grande contra a indústria, o varejo tem essa força porque o produto da cesta básica, vocês podem reparar, por exemplo, na primeira semana do mês quando tem aqueles cartazes no supermercado, chamando café, arroz, óleo, produtos da cesta básica, o que o mercado está falando? Ele está chamando o consumidor para o chão de loja, é isso que ele está fazendo, lá dentro ele se vira e vende outros produtos, que dá uma margem maior. Mas esses produtos da cesta básica é um chamariz para o consumidor e para o chão de loja, então eles exercem uma pressão muito grande na indústria, então a indústria tem uma dificuldade, não só o café, como o arroz, feijão, óleo, eles têm uma dificuldade de repassar preço. Principalmente em momentos de alta com o café, atualmente. O café está vivendo um momento muito complicado, quer dizer, o preço quase triplicou e a indústria está tendo essa dificuldade de repasse. Isso aqui no Brasil. Fora do Brasil, a gente tem feito algumas exportações para os Estados Unidos, Panamá, Cuba, Venezuela, Bélgica, Holanda. Para a Europa, em volumes menores ainda. A gente está fazendo algumas experiências com volumes menores. Para os Estados Unidos, é marca própria de um cliente, o cliente desenvolveu uma marca própria lá e nós estamos fazendo o produto para ele aqui. E agora para os demais países da América Latina, a gente vende a marca nossa mesmo. Então, o Brasil não tem uma exportação de grandes volumes de café industrializado; que é uma falha nossa. Enquanto que a Colômbia soube explorar muito bem a marca dela. Hoje você pega uma marca de café colombiana, por exemplo, Juan Valdez, é conhecido no mundo inteiro. Em todo lugar que você vai no mundo você vê lá Juan Valdez, Juan Valdez. E é a marca da Colômbia que eles souberam explorar o marketing disso, e explorar muito bem. No Brasil ele ficou para trás. A indústria do Brasil hoje, a capacidade da indústria do Brasil é quase que tomada para atender o mercado interno. Então para vocês terem uma ideia, tudo o que o Brasil exporta hoje de café; é o maior exportador, é o maior produtor de café do mundo e o segundo maior consumidor de café do mundo. Só perde para os Estados Unidos com diferença muito pequena. Mas nós somos o maior exportador de café do mundo em volume. Quando você fala em valor, em valor absoluto, os maiores exportadores de café do mundo, hoje em valor absoluto, é Alemanha, Itália ou Suíça; ficam se revezando no primeiro lugar. E não plantam um pé de café. Não tem um pé de café na Alemanha, não tem um pé de café na Itália, mas o que eles fazem? Eles pegam o nosso café, não só o nosso, como do Vietnã, que é o segundo maior produtor de café do mundo hoje, da Indonésia, Índia. Eles pegam o café em grão, em natura, multiplicam por 100, e aí vendem para o mundo inteiro, em cápsula, torrado, moído, café especial, tal. Então hoje, do total de café que a gente exporta, que o Brasil exporta, 90% é o café verde em grão. É o café que sai da lavoura mesmo e é só beneficiado, ele passa por algumas cooperativas do Brasil hoje, classificando esses grãos, e é vendido para fora, 90%. 9% é o solúvel, é o café solúvel, e 1% só é o café torrado e moído. Nós estamos nesse 1%, a gente exporta o café torrado e moído, ou torrado em grão, ou torrado e moído. Então, nós temos um mercado muito interessante para explorar, mas a gente peca muito, a gente é muito ruim de marketing, eu não falo de gente na nossa empresa, mas o Brasil como maior produtor de café no mundo tinha que mudar. Isso não acontece só no café, acontece no milho, acontece na soja, a gente exporta muita soja, e o pessoal lá industrializa e vende a soja para o mundo inteiro, então a gente tem essa dificuldade, a gente tem que aprender muito ainda. A geração de vocês, eu acho que a gente pode ter uma esperança para mudar. A minha eu acho que já passou, mas eu acho que de vocês ainda dá para mudar alguma coisa.
[…] Eu queria perguntar, você falou sobre essa alta que teve no preço do café, né? A gente não entendeu o contexto, assim, desse preço no cenário global. Tem uma questão climática, né, eu acredito? […] Mas tem algum componente ali que tem relação com a questão cambial do cenário global internacional?
No caso do café, o café já está enfrentando essa alta há um ano e meio, dois anos já. Ele está numa escala, se vocês conseguirem entrar no gráfico da… Só, rapidamente, a Bolsa de Nova York é o Café Arábica e a Bolsa de Chicago, a Bolsa de Nova York é o Café Arábica, a Bolsa de Londres é o Café Conilon. O Brasil é produtor dessas duas variedades, o maior produtor do mundo de café Arábica e segundo o maior produtor do mundo de café Conilon. Só perde para o Vietnã e a produção desse ano a gente já acha que a gente vai superar o Vietnã também na produção do Conilon. Então a gente vai ser o maior do mundo no Arábica e o maior do mundo no Conilon. O café, então, ele tem passado, essa alta já começou há dois anos primeiramente com o café Conilon. Nós tivemos uma quebra de safra muito grande no Vietnã e junto com a quebra de safra do Vietnã nós tivemos um probleminha que foi gerado pela guerra da Rússia com a Ucrânia. Vocês estão fazendo a cabecinha assim, é porque vocês já estudaram bastante para fazer pergunta, né? Com a guerra da Rússia com a Ucrânia, o que aconteceu? Aquele grupo terrorista houthis, que apoia o Hamas, eles começaram a atacar navio no canal de Suez, aonde é escoada a produção da Ásia para a Europa. Então, o que que aconteceu? Houve uma quebra no Vietnã, o preço do conilon subiu. O café do Vietnã, que ia para a Europa, teve que fazer um desvio pelo canal São Francisco, isso aí aumentou 15 a 20 dias da viagem de navio. Para vocês terem uma ideia, o frete do mundo inteiro foi impactado por isso. Só para vocês entenderem, para você mandar um navio do Brasil para os Estados Unidos, há dois anos atrás, era algo em torno de 2.500 dólares; só com a guerra na Rússia da Ucrânia e esse impacto lá no canal do Suez, esse frete aqui do Brasil, que você fala não tem nada a ver, esse frete aqui do Brasil subiu de 2.500 dólares para 7.500, então isso já causou um impacto lá atrás no mercado, não só do café, mas do mercado de commodities como um todo. Além da quebra do Vietnã, nós tivemos esse problema, então o que aconteceu? A procura do café do conilon brasileiro foi muito grande porque ficou mais perto, mandar café para a Europa ficou mais perto de comprar do Brasil. O que que aconteceu? A produção do café do Brasil, que já não é grande, foi para fora. E puxou o mercado do café arábica aqui dentro, então o conilon subiu de preço e carregou o café Arábica junto. Isso é uma explicação para a alta do mercado interno. O mercado interno aconteceu isso. Lá atrás quando o preço do café vocês pagavam, a gente pagava 8 reais no pacotinho de 500 gramas e hoje está no mercado, aí eu não sei quanto está, mas deve estar 30 e alguma coisa já. Aqui também. Nós estamos aqui em Minas Gerais, onde produz café também e no Brasil é essa média. Então, o que aconteceu? O conilon puxou o Arábica. A indústria de café, ela trabalha muito com as duas variedades, com os dois blends. Então, o consumidor, aquele consumidor que toma um café sem açúcar, por exemplo, ele percebe quando tem uma modificação no blend de arábica e conilon aqui no mercado interno, ele percebe, mas quando você coloca o açúcar você nivelou, nivelou a qualidade dos cafés, porque você se colocou um produto ali, você tirou aquela capacidade da pessoa sentir o gosto e falar assim, nossa, existe um percentual maior aqui de arábica ou conilon. Então, o que aconteceu com o mercado interno? O mercado interno, preço começou a subir. Aí veio a quebra na safra do conilon, o ano passado, por causa da seca, a produção esse ano inverteu, o café conilon vai ter uma boa produção e o café arábica sofreu uma seca grande. O que está acontecendo agora nesse momento? O ano passado que o conilon puxava o arábica, agora inverteu, o arábica está puxando o conilon e o preço ficou lá em cima. Outra coisa que aconteceu o ano passado, então o primeiro problema climático dessas duas variedades, isso fazia muito tempo que não acontecia, quer dizer, a gente tem sequências de problema climático nas duas variedades, fazia tempo que a gente não sentia esse problema. O que aconteceu também no ano passado? Que puxou, que batemos recorde de exportação aqui no Brasil. Tinha uma lei que chama EuDR da Europa, que era aquela lei que falava assim, olha, nós não vamos comprar produtos de áreas desmatadas. Estão lembrados? Que a vigência ia ser até 31 de dezembro de 2024. O que a Europa fez, a Europa e os Estados Unidos? Compraram tudo de produto que tinha no Brasil de diária de risco, e o café foi um deles. Então a Europa comprou, os Estados Unidos comprou; estocaram o produto e o Brasil bateu o recorde, o país nunca exportou tanto café como no ano passado. 47 milhões de sacas. Isso também enxugou o café no mercado, o estoque de passagem, que normalmente aqui no Brasil era mais ou menos tranquilo, não é? Longe de ser tranquilo, mas mais ou menos tranquilo, ele foi a quase zero. A gente começou uma safra com o estoque muito próximo a zero e contando com uma safra boa que ainda está no pé. Imagina essa situação, o mercado deu essa balançada, quer dizer. A alta continuou, lá em cima. Esse é o segundo fator, então. Terceiro fator, a China começou a tomar café. É uma coisa que a gente imaginava, a gente queria que o Chinês, a gente brinca, eu queria que o chinês tomasse café, uma xícara por ano, não por dia, por ano, e já estava bom. Começaram a tomar café. A China cresce em torno de 30% no consumo de café por ano. E onde está o crescimento na China? Aqui no Brasil também o crescimento… Eu não sei se vocês vão concordar, as pesquisas mostram isso. O crescimento da faixa etária que mais cresce café na China e no Brasil também, mas na China, é dos 18 a 25 anos. Está certo? Está certo isso? Essa geração de vocês está tomando muito café na China. Eles não querem tomar chá. Para vocês terem uma ideia, tem uma cafeteria na China chamada Looking Café. Já viram falar da Looking Café? É quase três vezes maior do que a Starbucks, eles têm algo em torno de 25 mil lojas, são lojas menores aonde a molecada, a molecada pega o café na loja e vai para a universidade, eles não ficam batendo papo. Diferente das lojas de Starbucks, se bem que Starbucks, ela está mudando o conceito também, antigamente você vai nas lojas dos Estados Unidos por exemplo, é aquele espetáculo, você entra, abre o seu computador ali e tal, e hoje eles estão diminuindo, porque o americano também quer pegar o café e vazar, mas o chinês aprendeu a fazer isso, o chinês não entra na loja para ficar batendo papo, ele é acelerado, ele pega o café e a Looking café enxergou isso primeiro que a Starbucks na China. Então a China começou a consumir café. Em 2023 a China, 2024 a China importou da gente algo em torno de 800 mil sacas, 800 mil sacas é pouquinha coisa; o Brasil produz 65 milhões, a China importou 800 mil sacas, você fala, não, não, mas isso aí… mas este ano eles assinaram um contrato, uma empresa só assinou um contrato de 4 milhões de sacas para os próximos quatro anos. Então uma empresa da China comprou, só uma empresa da China comprou 1 milhão de sacas por ano. E eles estão plantando café. Hoje, a China já produz mais café que o estado do Paraná, por exemplo. O ano passado, eles produziram mais de 1 milhão de sacas. Então, imagina a hora que a China começar mesmo a tomar café. Então, a gente acredita em um preço de café aqui no Brasil muito forte. A entrada da safra está aí, mas a safra vai vir uma safra boa, no Arábica, não tão, mas no conilon, sim. Mas a gente não acredita numa queda muito monstruosa de voltar nos preços, pelo menos nos próximos dois anos, a gente acredita que os preços vão ficar mais ou menos nessa faixa que está aí um pouco menos, talvez, mas a gente não acredita numa queda muito grande. Então, tem essas três condições que fizeram com que o preço realmente complicasse bastante para o tomador de café. A gente sempre fala aqui que o maior consumidor de café é o ralo da pia, porque o pessoal faz garrafas de café e joga. Eu tenho quase certeza que ninguém está jogando mais café. Então, esse café que ia para o ralo da pia já não vai mais. Então, houve um baque, sim, no consumo. Eu acho que consumo melhor ele sentiu, porque, principalmente, levando em consideração que aqui no nosso país 75% ou 80% do consumo de café é das classes C, D e E; as classes A e B, ela tem aquele café, ela não sente o preço e ela tem aquele café, que são os cafés especiais, que o mercado nosso é muito forte hoje também, mas é aquele consumidor que ele não importa o preço do café, ele quer tomar aquele café, ele quer experimentar aquele café, ele não é fiel à marca, mas ele quer experimentar. Ele chega na gonda, vê lá aqueles cafés com nomes diferentes, ele quer experimentar. Mas o grande volume de café hoje está na casa CD, 75 e 80%.
Foi bem legal que você falou da China que a gente tinha dado uma pesquisada sobre isso também, que teve um acordo da agência brasileira de exportação com a Looking Coffee. […] A gente queria também ver uma perspectiva assim sua, em questão da política externa do Brasil mesmo. A gente viu que você tá no Grupo Dois Irmãos desde 2011, né?
Sim.
Então passou por alguns, alguns vários governos do Brasil. E eu queria entender, você percebe mudanças de política, em questão de política externa comercial, durante esses governos. Você notou alguma coisa que impactou o mercado do café?
Sim. Não que seja uma característica deste governo atual. Eu acho que os últimos governos que passaram, houve um investimento, assim, nessa parte de melhorar a imagem do Brasil. Eu acho que isso em todos eles. Falar que o governo anterior fez mais um governo atual, ou o governo anterior fez mais ou menos do que o governo anterior ainda. Eu acho que nos últimos 15 anos quem tem feito um trabalho muito legal e os investimentos nessa área continua gerando resultado. Eu acho que gerando resultado é a APEX. A APEX tem feito um trabalho muito legal, independente de governo, independente de quem é, se é Lula, é Bolsonaro, se é Fernando Henrique, se é Dilma. Eu acho que o investimento na APEX já tem seguido um modelo muito interessante porque a gente tem sentido isso aqui. A preparação nossa pro mercado externo aqui, a gente passou por um programa da APEX chamado PEIEX. Se vocês entrarem na internet e a gente vai PEIEX, vocês vão ver esse programa. Esse programa é um programa do governo. Ele é subsidiado do governo, principalmente para pequenos, pequenos e médias empresas que queiram exportar, eles têm uma carga horária de 40 horas, mais ou menos, que eles vão até a empresa, fazem todo um treinamento para os funcionários que poderiam estar ligados à exportação direta, faz um treinamento sobre câmbio, sobre fechamento de câmbio, sobre contrato, sobre invoice, sobre contatos, é muito muito interessante. Outro órgão do governo que tem feito um trabalho muito legal, aqui no Paraná, a gente tem um programa chamado Exporta Paraná, lá em São Paulo tem também.[…] Santa Catarina também tem, eu acho que todos os estados têm. Aqui no Pará tem um Exporta Paraná, que é ligado na FIEP que é a Federação das Indústrias do Paraná, que também faz um trabalho de acompanhamento aí a gente durante o treinamento a gente escolhe alguns, faz algumas prospecções e escolhe alguns alguns países alvo pra gente a gente atacar. O pessoal da FIEP vai até esse país faz todo o levantamento do potencial do seu produto nesse país e depois traz pra gente fala assim “ó nós fomos lá apresentamos o seu produto e existe esse mercado interessante” e dá uma relação de empresas pra você pra você entrar em contato. Nós fizemos o trabalho no Chile deu muito resultado, no Chile a gente já teve uma exportação pequena pra lá, já participou de uma feira de produto, então, além desse trabalho do Exporta Paraná a gente tem vários programas no Senai por exemplo que prepara você a desenvolver produtos novos, produtos para inovação, constantemente, você tem uma, APEX criou uma plataforma de consulta, por exemplo, você tem uma plataforma chamada Comex Stat, é uma plataforma controlada pela APEX e pelo Ministério da Indústria de Comércio, que você entra, você coloca o código do produto ali que você está exportando, você identifica aonde, quem está vendendo mais, para que país, saindo da onde, qual a participação do Brasil em determinado mercado, faz até o trabalho de prospecção, porque em alguns países, não todos, em alguns países eles abrem o cadastro para você, para você entrar na relação de clientes, clientes potenciais dos produtos. Então eu acho que os governos, […] eu acho que eles têm investido, ferramenta a gente tem o que precisa mesmo é vontade das empresas de quebrar aquele paradigma de falar assim “nossa, a exportação é muito complicada”, e não tem nada de complicado, você tem que dar a cara para bater, você vai errar, vai correr atrás vai ter um monte de coisa, pontos que você tem que melhorar então o governo, ele tem contribuído muito eu não vejo assim falha grande dos governos com relação a preparar as empresas no Brasil para exportar, ferramenta a gente tem recurso tem ,eu acho que falta mesmo é, é coragem, eu acho que a gente muitas indústrias no Brasil, o café também tem disso, eu acho que elas entraram nas ondas de conforto. “Ah, eu vendo no mercado interno, tá beleza.” Mas é nessa hora que a gente precisa se mexer […]
A gente queria conversar um pouquinho com você sobre a questão da tarifa, né? Das grandes tarifas que o Trump tá trazendo, e o “Tarifaço” que ocorreu a semana passada, exatamente. Causou um caos nas bolsas, e a gente já sabe que o Vietnã que é um grande exportador de café, foi taxado em 46%. A gente teve uma taxação, se eu não me engano, de 10%. Então foi um dos mais tranquilos. […]
[…] No caso do Vietnã, tem uma oportunidade muito boa para o Brasil. Por que? Porque o preço do café, o preço que o Brasil vendia, café conilon para fora, ele sempre foi muito mais baixo, muito mais baixo não, ele tem uma diferença considerável com relação ao preço que o Vietnã vendia. A gente não entende muito bem se tem alguma coisa com relação à qualidade e tal, porque a gente acredita que o nosso café também é tão bom, ou até melhor que o café deles. Mas a gente tem essa oportunidade. Os Estados Unidos, ele consome muito café, e se houver realmente, hoje o governo vietnamita já mandou uma mensagem para os Estados Unidos que quer conversar sobre o café, […] mas se permanecer aos 40%, o Brasil tem uma oportunidade muito grande. Do ponto de vista do mercado externo. Para o Brasil, ótimo, para as indústrias no Brasil, no mercado interno, eu não sei, porque o café conilon ele vai sair de novo daqui e vai puxar o mercado daqui para cima. Voltando a tua pergunta sobre a tarifa, […] o tarifaço foi bom para nós. 10%, foi a menor taxa, então, foi bom, agora, qual é o efeito chicote disso aí lá na frente, […] a gente não sabe, porque imagina o impacto mesmo se ele ficar o pé nisso, o impacto mesmo na economia mundial, vocês já estão vendo na bolsa, o impacto primeiro, mas vamos […] achar que ele vai bater o pé e vai continuar […] vai causar uma recessão americana, ponto. O americano que pagava o valor lá de um produto lá da China, por exemplo, uma cafeteira em Nova York custava lá nove dólares, ele jogou a tarifa de produto China para 60, é uma briga, a China já falou 34, ele falou que agora vai dobrar. Então, essa cafeteira nos Estados Unidos que custava 9 dólares, vai para 25, 30, 40 dólares. O que acontece com a inflação nos Estados Unidos? Ela sobe. Causa uma recessão, porque o americano também não tem dinheiro para queimar. Uma recessão nos Estados Unidos é aquela história né, os Estados Unidos dão um espirro, a gente fica com febre. Então, pode desencadear uma recessão em vários países. É um efeito chicote lá na frente, quer dizer, a expectativa, respondendo à tua pergunta neste momento, é boa para o Brasil, até agora está beleza. A gente não sabe o que pode vir aí para frente. Só voltando um pouquinho. O que você falou da tarifa, né? Hoje eu vi uma matéria que fala que ele está consciente do que pode acontecer. Quer causar uma recessão? Por que? Porque ele quer abaixar o juro americano na porrada. Então ele tem uma taxa de juro que está lá, 4,5 a 5, essa é a taxa, e ele quer abaixar na barra. Lá ele não manda no Banco Central. Aqui ainda pode ser que tenha alguma coisa, mas lá o Banco Central não obedece a ele. Nunca, faz 500 anos, 300 anos que funciona assim, o Banco Central não obedece a ele. Então o que ele está fazendo? Ele quer abaixar o juro e tem uma razão específica para ele abaixar o juro. Os Estados Unidos tem uma dívida de 30 trilhões pra rolar daqui seis meses, 30 trilhões, imagina ele rolando essa dívida no governo dele a uma taxa de juro de 5% ao ano, que é impensável para os Estados Unidos, os Estados Unidos nunca imaginou que ia chegar a 5%, quantos anos ficou 2%? Então ele tem essa dificuldade. Ele tem esse objetivo, o mercado fala isso, que ele está baixando na marra, isso para poder rolar a dívida no governo dele com uma taxa menor. Agora, isso pode ser um grande tiro no pé, porque uma coisa é você fazer toda essa manobra, tudo isso para causar uma recessão, para baixar na marra a taxa de juro, e depois o mercado demorava a voltar. Imagina se os Estados Unidos páram, 2 anos de recessão, ferrou, ferrou ele, ferrou o mundo inteiro, América Latina. Então, é um jogo perigoso né. Mas, em resumo, até agora está bom para nós. Pronto. E está bom para nós, porque a gente vai vender café conilon para os Estados Unidos, no lugar do Vietnã, e também vamos vender café torrado e moído com preço melhor, porque grande parte do café torrado e moído que entra nos Estados Unidos é da Europa, e ele tributou 20%. Se nós estamos produzindo torrado e moído aqui e chegando com uma tarifa de 10%, a gente vai ficar mais competitivo que o café da Europa, que não é da Europa, né? É, um café nosso que sai daqui em grão verde e industrializado lá e vendido pro resto do mundo ganha dinheiro nas nossas custas. Então pode ser que a gente ganha nisso também.
[…] Queria trazer agora uma pergunta sobre as suas perspectivas sobre os desafios na exportação hoje em dia. […] desafios logísticos, regulatórios, cambiais, como que são essas exigências, como que a empresa se adapta com isso […]
A gente começou a operar com a exportação, vai fazer quatro anos, três anos e pouquinho. Então, a gente tem uma perspectiva muito boa no nosso caso. Nós fizemos um investimento grande na planta, hoje ela tem uma ociosidade, então ela me permite a entrar e conseguir grandes volumes disso, porque a gente tem uma condição industrial muito legal, a gente se preparou pra isso. Mas antes de falar, eu tenho uma de falar sobre essa perspectiva de exportação, tem uma publicação do Fórum Econômico Mundial, chamado Top Risk 2025. […] É uma pesquisa que sai anualmente, é uma pesquisa feita com os economistas do mundo inteiro. Então eles eles vão colocando os riscos, os riscos que o mundo, eles fazem uma projeção, se não me engano, para dois anos e para dez anos ou para dois anos e cinco anos e tal. Então, a maioria dos economistas estão apontando que o maior risco para as empresas nos próximos cinco anos é o risco climático, […] Guerra também é um risco, […] você pega uma situação como a Ucrânia e a Rússia, como Israel e o Hamas, quando isso acontece o mercado ele desestabiliza, ele perde toda aquela coerência nas negociações, quer dizer, muda tudo, então o que as grandes empresas têm que olhar muito é esse material que sai do Fórum Econômico Mundial, então você pega no nosso caso, exemplo, o que mudou o mercado nosso nos últimos três anos foi o climático. O Rio Grande do Sul, por exemplo, o impacto do das chuvas no Rio Grande do Sul, o ano passado, o que fez com o Estado? Quer dizer, impactou no Estado, impactou no país também, que o impacto das chuvas no Rio Grande do Sul parece que foi qualquer coisa de 0.7% no PIB do Brasil. Agora, falando do nosso caso, a gente está se preparando para isso. Então, a gente preparou uma equipe para trabalhar com exportação, porque o mercado interno ele é muito desafiador, então, você entra numa briga de preço, você chega no supermercado, por exemplo, você vai ver a quantidade de marcas de café que tem, então, a briga é muito grande. Quando você vai para o mercado externo, principalmente Europa, Ásia, é muito interessante porque você consegue gerar valor no teu produto. Quando você está trabalhando aqui para a América Latina, a briga é quase igual ao mercado interno. É legal, porque você faz volume, tem operações, o câmbio ajuda muito. A maneira como você trabalha com o fechamento de câmbio, por exemplo, é interessante. Você pode fechar câmbio antecipado. Então, a possibilidade de quando você entra para o mercado externo, a amplitude é fantástica, você tem que saber escolher o seu mercado alvo, uma coisa muito interessante que a gente aprende, que as empresas do Brasil falham muito é tentar vender para fora o mesmo padrão de produto que você vende aqui dentro. Na mesma embalagem, o mesmo produto. E não funciona. Então, estudar o mercado lá fora Como é a apresentação do seu produto lá fora? Era uma embalagem menor, era uma embalagem maior, quantidade de cores que tem na embalagem. Então, tudo isso é diferente. Nesse programa do Exporta Paraná, eu conheci um pessoal lá que fazia a exportação de produtos de beleza. O cara montou uma fábrica de produtos de beleza e durante um ano inteiro ele, o que ele mandou de amostras de graça pra Europa foi um negócio assim absurdo. Gastou 100 mil dólares, só de remessa de amostras pra Europa. E não funcionava, não funcionava. Um dia ele contratou uma, uma especialista em produtos pra estudar o mercado. O produto dele era fantástico. Ela fez umas modificações na embalagem do produto. No tamanho, na apresentação, tal, mudou. Voltou para lá, ele voltou para Europa, fez contato e começou a vender absurdo. É o mesmo produto numa embalagem diferente, numa apresentação diferente. Então, isso é o que a gente peca. Nós temos potencial, a gente tem material humano para fazer isso, os governos têm ajudado bastante nisso. Existem órgãos no governo que funcionam ainda. Existem órgãos no governo que funcionam para isso. Então, o que precisa é a gente especializar. Quer dizer, talvez em alguns segmentos a gente parou no tempo, […] e o mercado passa, mas no Brasil tem um baita no potencial, eu tinha um professor carioca da FGV que ele falava assim “se construísse muros em volta de todos os países, a partir de hoje ninguém compra de ninguém, todo mundo tem que sobreviver o que tem ali, o único país do mundo que ia sobreviver seria o nosso, não precisava importar nada de ninguém”, ele falava isso então nós temos um potencial muito grande, a gente precisa se capacitar para explorar. […] Então a gente precisa sair da zona de conforto.